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terça-feira, 10 de maio de 2011

Crimes e Obsessão

CRIMES E OBSESSÃO

Este artigo foi capa na RCE

Muitas vezes, quando deparamos com crimes bárbaros praticados por pessoas que julgamos insanas e calculistas, ficamos pensando no que ocorre em uma mente assassina, capaz de elaborar um plano homicida nos mínimos detalhes e com uma dosagem sádica que nos faz refletir sobre o porquê desses acontecimentos, do mal sobrepor ao bem. Entretanto, como tudo tem uma explicação e vivemos em um planeta de expiação e provas, é certo que o mal prevalece devido às nossas imperfeições espirituais, pois ainda estamos em processo evolutivo que, para alguns, é muito lento, pelo fato de não sabermos aproveitar as oportunidades que Deus nos oferece nas diversas reencarnações.

Sabemos que uma infância conturbada, com abusos sexuais aliados ao meio social que se vive, pode ser preponderante para influir na personalidade de uma pessoa a ponto de deixá-la psiquicamente desequilibrada. Juntando-se a isso os inimigos de outras vidas, sedentos de vingança contra os seus desafetos, chegamos a um quadro de obsessão capaz de destruir vidas.

Não podemos ver essas atrocidades apenas pelo Mundo Material, pois hoje, através de diversos livros espíritas, sabemos como a obsessão funciona. Assim, não devemos deixar de lado as observações que são feitas. Por mais que possamos ser criticados por outros que não pensam do mesmo jeito, a obsessão é um fato e predomina nesses assassinatos e crimes diversos que chocam a humanidade. Como temos o livre arbítrio, cabe ao obssediado deixar ou não que o hospedeiro tome conta de sua mente de forma fatal.

Para analisarmos melhor a mente assassina aliada à obsessão, selecionamos três casos no quais podemos ter o perfil dos criminosos e ver por outro ângulo os crimes que cometeram, os quais obtiveram grande repercussão em todo o país.

Caso 1: Francisco de Assis Pereira, conhecido como o “maníaco do parque”, que assassinou oito mulheres e estuprou cinco no Parque do Estado, na divisa entre as cidades de São Paulo e Diadema (SP), teve uma infância problemática. Ele teria sido molestado sexualmente por uma tia e manteve relações homossexuais com um ex-patrão. Em sua vida social, era considerado pelas pessoas ao seu redor como um indivíduo religioso e amável, incapaz de praticar qualquer mal. Com um QI acima da média e voz pausada, ele declarou que seus conflitos haviam formado o seu “lado negro”. “Nunca contei isso pra ninguém, nem para minha mãe. Eu tenho um lado ruim dentro de mim, é uma coisa feia, perversa, que não consigo controlar. Tenho pesadelos, sonho com coisas horríveis, acordo todo suado. Tinha noites em que eu não saía de casa, pois sabia que, na rua, iria querer fazer de novo, não me seguraria. Deito e rezo para tentar me controlar”, explicou Francisco em uma entrevista. Ele disse ouvir “vozes” que o induziam ao crime.

Caso 2: Mateus da Costa Meira, na época com 24 anos de idade, entrou em uma sala de cinema no Shopping Morumbi, em São Paulo, e, com uma submetralhadora, atirou nas pessoas que ali estavam para ver o filme Clube da Luta. Estudante de medicina, ele vinha de uma família de classe média. Embora os pais o tratassem com muito carinho, Mateus mantinha um relacionamento frio e distante com eles, tratando-os com indiferença. Era uma pessoa irritada, depressiva, autoritária, paranóica e solitária, que, por vezes, consumia álcool e cocaína. Em uma entrevista, ele disse que, antes de cometer a chacina, foi ao banheiro do cinema e, depois de se olhar no espelho, não se lembrava de mais nada do que aconteceu. Afirmou também ouvir “vozes”.

Caso 3: Wedson Rosa de Morais, um brasileiro residente nos Estados Unidos, teve um acesso de fúria e, com 50 facadas, assassinou os avós de sua esposa, Gerald e Amélia Hunt, ambos com 79 anos de idade, ferindo também a sogra, Lois Miranda. Em seguida, tentou o suicídio, perfurando o próprio peito. O crime, motivado pela cobrança de uma dívida de 670 dólares, pelo pedido dos avós para que a neta se divorciasse dele e pela ameaça de perder a guarda dos dois filhos, à época com 5 e 7 anos, fez de Wedson o primeiro brasileiro a estar no “corredor da morte”, mas acabou condenado à prisão perpétua. Ao ser preso, alegou que uma força estranha tomou conta de sua mente, a qual denominou como “Neto”, que dizia tratar-se de uma criança entre 8 a 12 anos. “Quando se apossa de mim, sinto que estou morrendo e o Neto vivendo”. Na prisão, as “vozes” cessaram por um tempo, mas depois voltaram, só que, desta vez, Wedson afirmou que eram do demônio. “As vozes eram insuportáveis e ordenavam que eu me matasse”, contou. Transtornado, tentou novamente o suicídio, mas foi contido por um colega de cela.

Esse é o perfil psicológico de três criminosos. O que eles têm em comum? Todos tiveram uma infância conturbada, aparentavam normalidade e eram amáveis em alguns casos. Sem exceção, declararam ouvir “vozes” e se sentiram tomados por uma força estranha. Na época dos crimes, os três estavam com idades entre 24 a 33 anos, ou seja, não eram adolescentes em busca de aventura. No caso de Wedson, que tentou se suicidar na seqüência dos os homicídios, vale ressaltar que, nos Estados Unidos, país em que residia, 80% dos assassinos em massa tomam essa mesma atitude.

Poderíamos assinalar mais algumas semelhanças caso a caso, mas entendemos que estas são suficientes para que possamos tirar algumas conclusões. Afinal de contas, estamos falando de obsessão e um Espírito, para tal ato, deve ter sintonia com outros que pensam da mesma forma, submetendo-se à injunção de seus algozes.

Quando o “maníaco do parque” fala sobre seus sonhos, podemos compreender a clareza da obsessão ao compararmos o caso com um relato idêntico contido no livroTormentos da Obsessão, de Manoel Philomeno de Miranda e psicografado por Divaldo Pereira Franco, que descreve essa mesma sensação vivida por um Espírito desencarnado: “desde a primeira infância, era acometido de sonhos terrificantes, nos quais seres monstruosos o perseguiam, ameaçando destruí-lo por meio das formas mais terríveis que se possa imaginar. Sempre despertava daqueles sombrios pesadelos banhado em álgido suor e apavorado. As sombras da noite passaram a ser-lhe um incomparável tormento”.

Com relação ao caso de Mateus e a utilização de álcool e a cocaína por ele, o psiquiatra Talvane Martins de Moraes, em entrevista à revista Veja, disse que a agressividade possui vida própria na personalidade de uma pessoa e, portanto, a droga ou a bebida seria apenas a porta pela qual ela escaparia. “O uso continuado ou em combinação com o álcool pode desencadear o chamado ‘delírio paranóico’, um distúrbio da percepção no qual a pessoa ouve vozes e vê coisas imaginárias”, afirmou.

Respeitamos toda opinião, mas o Espiritismo pensa diferente, ou seja, não seriam apenas “coisas imaginárias” que seriam vistas. A droga é um veículo fortíssimo para conectar a mente do obssessor com a do obsediado, fazendo com que essa ação vampiresca se realize, até porque ele está na mesma sintonia e se compraz com seu obsessor. Ainda em Tormentos da Obsessão, Manoel Philomeno de Miranda descreve um caso semelhante ao do estudante paulista: “sabia que a morte não representava o fim da vida, porquanto, nos delírios alcoólicos, conseguia detectar os inimigos que o afligiam e o levavam a recordar-se dos atos ignóbeis que lhe haviam sofrido. Juravam jamais perdoar, mas vingar-se sem piedade até que, rastejante, experimentasse o máximo de padecimentos que lhe imporiam”.

Também em Tormentos da Obsessão, temos um caso que se aproxima da forma pela qual Wedson matou os avós de sua esposa. Segundo o livro, os obsessores planejavam a vingança há algum tempo e, no momento exato, aproveitando que seu antigo desafeto estava alcoolizado em uma mesa de bar, induziram o homem a pegar uma faca durante uma discussão e cravar diversas facadas em seu antagonista, mesmo depois de tê-lo abatido e matado. Neste caso, os agressores vampirescos foram mais longe e provocaram a ira das pessoas que estavam naquele lugar, induzindo-as ao linchamento daquele alcoólatra homicida que ali se encontrava.

Esses são alguns exemplos das atrocidades que acontecem à nossa frente e que não podemos enxergar a co-autoria maléfica no Mundo Espiritual. No Mundo Material, o encarnado é julgado e condenado, tendo sua parcela de culpa por se deixar envolver, utilizando o seu livre arbítrio de maneira equivocada. Já no Mundo Espiritual, a justiça que condenará o obsessor é a divina, ou melhor, no momento exato, sua própria consciência terá a incumbência de fazê-lo enxergar e se autocondenar pelos abusos praticados, respondendo futuramente pelos atos indevidos.

No Mundo Material, temos a influência constante de encarnados e desencarnados, pois nossa mente capta tudo aquilo que pensamos, é uma afinidade mental e moral. Podemos emitir desejos de maneira consciente ou inconscientemente, por isso, o estado de vigília é de suma importância. A lei de causa e efeito nos dá o que plantamos, a colheita depende de nossos atos pretéritos. Devemos tomar muito cuidado, já que, no Mundo Espiritual, há uma legião de Espíritos maléficos preparando minuciosamente a destruição de seus antigos desafetos. Nossos algozes não perdoam e muitos desejam destruir a todo e qualquer custo, têm uma sede de vingança tão grande que levam muitas pessoas à loucura, à depressão e à pratica de atos inconseqüentes que, em estado de lucidez, não seriam concretizados.

Da mesma forma, a espiritualidade Maior está a nos auxiliar. Nos momentos do sono, somos elucidados acerca dos acontecimentos e incentivados a trilhar o caminho do bem, no entanto, temos o livre arbítrio e cabe a nós a decisão final. A espiritualidade amiga não mede esforços para nos socorrer, porém, em determinados momentos, fica difícil o auxilio superior, devido à baixa sintonia em que nos encontramos, com pensamentos viciosos e maléficos.

Quando fazemos uma simples oração, praticamos e pensamos coisas boas, ouvimos músicas e lemos livros salutares, a faixa vibratória que emitimos é direcionada para Espíritos superiores, atraindo-os para o nosso lado e colocando uma barreira magnética para os inferiores, pois o pensamento não é o mesmo. Outra atitude que pode mostrar ao nosso opressor que não somos mais aquela criatura do mal de tempos atrás é a conduta mental e moral que passamos a ter. Praticar a caridade, o auxílio ao próximo, o perdão, o amor e a fé são condutas gloriosas para nossa evolução espiritual e, ao mesmo tempo, uma prova de aprendizado, mostrando que estamos superando nossas imperfeições, aprimorando conhecimentos e colocando-os em prática, deixando para trás nossos erros do passado. Isso sensibilizará nosso obsessor, que também receberá o auxílio da espiritualidade Maior para superar as possíveis mágoas e vinganças que ainda permaneçam, conquistando uma nova oportunidade de reparação mútua em uma outra existência, oferecida pelo Mestre Jesus aos seus filhos em busca da perfeição e da evolução.

Por Marco Tulio Michalick

Texto original publicado na Revista Cristã de Espiritismo, edição nº 19, ano 2003.

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