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terça-feira, 10 de maio de 2011

Suicídios Coletivos

Suicídio Coletivo

O suicídio é uma prática condenável por diversas religiões, entre elas o espiritismo. E por um motivo muito óbvio: Deus nos deu a vida, somente Ele pode tirar. O ser humano, muito individualista e materialista, se apega na maioria das vezes no seu Eu, fixando a mente em seus problemas que julga ser os maiores do universo, se limita à matéria, às paixões e aos vícios. Sendo assim, o seu mundo se reduz às coisas passageiras, esquecendo da eternidade que é a alma.

Sabemos das dificuldades enfrentada no dia-a-dia. Cada um, literalmente, carrega a sua cruz. Neste processo evolutivo, passamos por várias adversidades, a diferença é que para uns pode ser menos penoso devido à sua forma de ver os acontecimentos, ou seja, a evolução individual é algo primordial para que possamos ter um melhor entendimento sobre a vida.

Atualmente, um milhão de pessoas suicidam-se todos os anos, conforme dados da Organização Mundial da Saúde. Entre os países desenvolvidos, o Japão ocupa o primeiro lugar, e há tempos atrás ficou conhecido como o “Reino dos Suicídios”. Nesse país está se tornando comum a prática do suicídio coletivo. Em 2003, o Japão registrou 34 suicídios cometidos em duplas ou grupos por pessoas que se conhecem pela internet e fazem pactos. Também neste mesmo ano foram registrados 34.427 suicídios no Japão, 7,1% a mais que em 2002. Está se tornando uma coisa tão comum que todos os anos alguns escritores lançam livros sobre este assunto. O livro Manual Completo do Suicídio, de Wataru Tsurumi, teve sua primeira edição lançada em 4 de julho de 1993 e se tornou um best-seller, pois descrevia inúmeras formas de suicídio, com ranking de facilidade, dor e dicas estratégicas.

O suicídio coletivo é uma prática antiga. Ficou conhecida devido às seitas que pregavam uma filosofia que chegava a psicotizar o indivíduo. Entre alguns dos suicídios coletivos mais famosos está o provocado pelo Pastor Jim Jones, em 1978, na Guiana, levando aproximadamente 900 pessoas ao suicídio.

O psicólogo Antonio Carlos Alves de Araújo publicou um estudo sobre as pessoas que praticam o suicídio, fazendo um paralelo com a timidez: “Obviamente a problemática é mundial; vide o episódio no Japão sobre o suicídio coletivo dos "hikikomoris" (tímidos ou reclusos). Neste caso específico, a timidez caminhou para o suicídio, devido às pressões de uma determinada cultura que talvez não preste a atenção devida ao relacionamento humano, mas tão-somente ao desempenho profissional e competição, embora não seja um aspecto encontrado apenas no Japão. (...) O tímido teme a situação de prova a todo o momento; quando se retira do contato cria uma ficção de vitória por não ter que passar por determinado apuro, mesmo que isto lhe custe um prazer futuro. (...) O tímido na verdade comete uma espécie de "estelionato social"; sua lei é retirar, sendo que os aspectos de egoísmo estão totalmente presentes. (...) O último estágio do processo da timidez é a depressão profunda ou o transtorno do pânico e até o suicídio, quando a pessoa não consegue mais nenhum tipo de satisfação devido a sua conduta masturbatória perante a vida. (...) O suicídio e timidez têm como temática básica a questão de como enfrentar a profunda solidão. O primeiro não enxerga nenhuma alternativa para resolver o dilema; o segundo se acostumou e desfruta da mesma”.

Alguns julgam a prática do suicídio um ato corajoso, outros um ato covarde. A realidade é que é um ato penoso para quem prática, pois seus problemas estarão apenas começando, após essa “fuga” da matéria. Ninguém queira conhecer o Vale dos Suicidas, ou melhor, deveriam ter pelo menos uma visão desse lugar para que tenham consciência de que se o inferno existe, ali é o lugar.

Um dos maiores escritores de Portugal, Camilo Castelo Branco, se suicidou aos 65 anos, com um tiro no ouvido, quando foi acometido por uma cegueira, devido a uma doença nos olhos. Alguns anos mais tarde, por meio da médium Yvonne Pereira, escreveu Memórias de um Suicida, no qual descreveu com riqueza de detalhes a situação dos que suicidam e sua permanência no Vale dos Suicidas. Em determinado momento, ele fala sobre entidades perversas que escravizam criaturas nas condições amargurosas em que se via. Aprisionado, juntamente com outros suicidas, foram obrigados a fazer uma caminhada “penosamente por um vale profundo, onde nos vimos obrigados a enfileirar-nos de dois a dois, enquanto faziam idênticas manobras os nossos vigilantes. Cavernas surgiram de um lado e outro das ruas que se diriam antes estreitas gargantas entre montanhas abruptas e sombrias, e todas numeradas. Tratava-se, certamente, de uma estranha “povoação”, uma “cidade” em que as habitações seriam cavernas, dada a miséria de seus habitantes, os quais não possuiriam cabedais suficientes para torná-las agradáveis e facilmente habitáveis (...) Não se distinguiria terreno, senão pedras, lamaçais ou pântanos, sombras, aguaceiros... Sob os ardores da febre excitante da minha desgraça, cheguei a pensar que, se tal região não fosse um pequeno recôncavo da Lua, existiriam por lá, certamente, locais muito semelhantes”.

Dessa forma, imaginem um grupo de suicidas chegando do “outro lado”, tomando ciência de que a vida continua e que a promessa de um “paraíso”, seja ela prometida por um religioso ou um pacto mal planejado pela Internet, onde a realidade não corresponde com a ilusão dos suicidas que terão que responder por estes atos. A frustração ao chegar do outro lado faz com que os suicidas se arrependem ardentemente, porém é tarde demais.

Em O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, lê-se que “as conseqüências do suicídio são muito diversas: não há penas fixadas e, em todos os casos, são sempre relativas às causas que o provocaram. Mas uma conseqüência à qual o suicida não pode fugir é o desapontamento. De resto, a sorte não é a mesma para todos: depende das circunstâncias. Alguns expiam sua falta imediatamente, outros em uma nova existência que será pior que aquela da qual interromperam o curso”.

Sendo assim, temos consciência de que tanto pela iniciativa, quanto pela indução, iremos responder pelos nossos atos, pois afinal temos o livre-arbítrio para tomar as decisões que achamos cabíveis naquele momento, muitas vezes sem ter a noção exata das conseqüências futuras.

Não se deixe levar pelas ilusões de um mundo melhor pós-suicídio, afinal a porta falsa do suicídio é uma armadilha para um caminho sem volta.

No Centro Espírita pode-se obter ajuda através de palestras educativas e esclarecedoras, passe, tratamento da desobsessão, água fluída, leituras edificantes e o culto do evangelho no lar.

É nossa obrigação acolher com carinho as pessoas que sabemos ter tendência suicida. Devemos estar atentos para que elas não cometam essa atrocidade contra si mesmas. Muitas vezes o medo faz com que procurem outras pessoas com o mesmo intuito suicida, se encorajando, acabam praticando o suicídio coletivo.

Por Marco Tulio Michalick

Texto Original Publicado na Revista Internacional de Espiritismo, edição nº 12, ano 2006.

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