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domingo, 29 de maio de 2011

A Parábola das Bodas


PARÁBOLA DAS BODAS

"De novo começou Jesus a falar em parábolas, dizendo-lhes o Reino dos Céus é semelhante a um rei, que celebrou as bodas de seu filho. E enviou os seus servos a chamar os convidados para a festa, e estes não quiseram vir. Enviou ainda outros servos com este recado: Dizei aos convidados: Tenho já preparado o meu banquete; as minhas reses e os meus cevados estão mortos, e tudo está pronto; vinde às bodas. Mas eles não fizeram caso e foram, um para o seu campo, outro para o seu negócio; e os outros agarrando os servos o ultrajaram e mataram. Mas irou-se o rei, e mandou as suas tropas exterminar aqueles assassinos e incendiar a sua cidade.

Então disse aos servos: As bodas estão preparadas, mas os convidados não eram dignos; ide, pois, às encruzilhadas dos caminhos, e chamai para as bodas a quantos encontrardes . Indo aqueles servos pelos caminhos, reuniram todos os encontraram, maus e bons; e a sala nupcial ficou cheia de convivas. Mas, entretanto o rei para ver os convivas, notou ali um homem que não trajava veste nupcial e perguntou-lhe: Amigo, como entraste aqui sem veste nupcial? Ele, porém, emudeceu. Então o rei disse aos servos: atai-o de pés e mãos e lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes. Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos".

(Mateus, XXII, 1-14)

1 - CAIRBAR SCHUTEL

O Cristianismo, como o Espiritismo, representa a celebração das bodas de um grande e rico proprietário, cujo pai não poupa trabalho, sacríficio e dinheiro para dar à festa o maior realce e dela fazendo participar o maior número possível e convivas. E para que todos se fartem, se satisfaçam e se alegrem, o senhor das bodas apresenta-lhes lauta mesa com variadas iguarias, não faltando música e discursos que exaltam o sentimento e a inteligência.

As iguarias apresentam os ensinos espirituais; assim como aquelas satisfazem e fortalecem o corpo, estes mantêm e vivificam o Espírito. A Parábola das Bodas é uma alegoria, uma comparação do que se verificava naquela época com o próprio Jesus Cristo. Os primeiros convidados foram os doutos, os ricos, os sábios, os aristocratas, os sacerdotes, porque ninguém melhor do que estes estavam em condições de participar das bodas, e fazer-se representar naquela festa soleníssima para a qual o Rei dos Céus, sem medir nem pesar sacrifícios, havia mandado à Terra o seu filho, de quem queria celebrar condignamente as bodas.

E quem poderia melhor apreciar Jesus Cristo e comparticipar de suas bodas, admirando a grande sabedoria do Mestre, seja na cura dos enfermos, seja nos prodigiosos fenômenos de materialização e desmaterialização por ele operados, como a multiplicação dos pães e dos peixes, a manifestação do Tabor, a dominação dos elementos e suas sucessivas aparições depois da morte? Quem estava mais apto para compreender o Sermão do Monte, o Sermão Profético, o Sermão da Ceia, seus ensinos, suas parábolas, senão os doutores, os rabinos, os sacerdotes? Seriam os pescadores, os carpinteiros, os roceiros, as mulheres incultas?

Infelizmente, porém, o que aconteceu ontem é o que acontece hoje: esta gente, toda ela se dá por excusada: uns porque têm de tratar do seu campo, outros do seu negócio; outros ainda há, como acontece com o sacerdócio romano e protestante, que agarram os servos encarregados do convite, ultrajam-nos, e, se os não matam; é porque teme o Código Penal, que vigora na época nova em que nos achamos. Que fará o Senhor desta gente que não quer ouvir o seu chamamento, nem aquiescer aos seus reiterados convites?

Quem é o culpado, ou quem são os culpados de estarem atualmente, festejando as bodas indivíduos sem competência nenhuma para a execução dessa tarefa? Quais são os responsáveis por haverem tomado lugar na mesa do banquete até pessoas sem o traje nupcial, sem a veste apropriada para tal cerimônia. Leiam a Parábola das Bodas os senhores padres, os senhores doutores, os senhores ministros, os senhores que andam transviando seus ouvintes e ledores com uma ciência sem base e uma religião toda material, sem provas, sem fatos, sem raciocínio! Digam: quem tem a culpa da decadência moral, da depressão da inteligência e do sentimento que se verifica em toda parte?!

Se a Parábola das Bodas não tivesse sido proferida para as eminências religiosas e científicas do tempo de Jesus, serviria perfeitamente para as de hoje, que repudiam e combatem o Espiritismo. Entretando, o fato é que os indoutos, os pequenos, os humildes de hoje, como os indoutos e humildes de ontem, estão levando de vencida toda essa plêiade de sábios e portentosos; e mesmo sem letras, sem representação e sem veste, auxiliados pelos poderes do Alto, estão concorrendo eficazmente para que as bodas sejam bem festejadas e concorridas!

A VESTE NUPCIAL

Era costume antigo, aliás, como hoje ainda é, usar para cada ato, ou cada cerimônia, uma roupa de acordo com o ato ou a cerimônia a que se vai assistir. O preconceito de todos os tempos tem determinado o vestuário a ser usado em certas e determinadas ocasiões. É assim que não se vai a um enterro com uma roupa clara, como não se vai a um casamento com um terno de brim.

Aproveitando essas exigências sociais, muito preconizadas pelos escribas e fariseus, e mormente doutores da lei e sacerdotes, Jesus, ao propor a Parábola das Bodas, deu a entender que, para o comparecimento a essas reuniões, fazia-se mister uma túnica nupcial; e aquele que não estivesse revestido desta roupagem, seria posto fora e lançado às trevas, onde haveria choro e ranger de dentes, naturalmente por haverem esbanjado tanto dinheiro em coisas de nenhum valor, de preferência à "túnica de núpcias", bem assim por terem perdido o tempo em coisas inúteis, em vez de tecerem, como deviam, a túnica para comparecer às bodas.

A veste de núpcias simboliza o amor, a humidade, a boa vontade em encontrar a verdade para observá-la, ou seja, a pureza das intenções, a virgindade espiritual! O interesseiro, o mercador, o astuto, o tartufo que, embora convidado a tomar parte nas bodas, está sem a túnica, não pode ali permanecer: será lançado fora, assim como será posto à margem o convidado a um casamento ou a uma cerimônia que não se traje de acordo com o ato ou a uma cerimônia que não se traje de acordo com o ato a que vai assistir.

Há bem pouco tempo, vimos, por ocasião de um júri numa cidade vizinha, o juiz convidar um jurado "para se compor" só pelo fato de achar-se o mesmo com um roupa de brim claro. O jurado foi posto fora, visto não estar revestido com a "veste de juízo". Como esteja o Evangelho disseminado em todos os meios sociais (o que aliás constitui um dos sinais frisantes do "fim do mundo"), só mesmo os homens de má vontade, os orgulhosos, enfatuados e de espírito preconcebido ignoram seus deveres de humildade, para a recepção da palavra divina.

A estes não garantimos êxito feliz quando comparecem ao banquete de espiritualidade, que se está realizando no mundo todo, no consórcio do Céu com a Terra, dos vivos com os mortos, para o triunfo da imortalidade. Dar-se-á sem dúvida, com esses turiferários do ouro e turibulários, o que disse Isaías em sua profecia: "Ouvirão e de nenhum modo entenderão; verão e de nenhum modo perceberão".

Justamente o contrário auguramos a todos ao que, "fazendo-se crianças", quiseram achar a verdade para abraçá-la, e tenham o firme propósito de o fazer, esteja ela com quem estiver e onde estiver. Tal é a lição alegórica das Bodas e da Veste de Núpcias.

CAIRBAR SCHUTEL

2 - EM BUSCA DO MESTRE - PEDRO DE CAMARGO ( VINÍCIUS )

"De novo começou Jesus a falar em parábolas, dizendo-lhes: O reino dos céus é semelhante a um rei, que celebrou as bodas de seu filho. E enviou os seus servos a chamar os convidados para a festa, e estes não quiseram vir. Enviou ainda outros servos com este recado: Dizei aos convidados: Tenho já preparado o meu banquete; as minhas rezes e os meus cevados estão mortos, e tudo está pronto; vinde às bodas. Mas eles não fizeram caso e foram, um para seu campo, outro para o seu negócio; e outros, agarrando os servos, os ultrajaram e mataram. Mas, irou-se o rei, e mandou as suas tropas exterminarem aqueles assassinos e incediarem a sua cidade. Então disse aos servos: As bodas estão preparadas, mas os convidados não eram dignos; ide, pois, às encruzilhadas dos caminhos e chamai para as bodas a quantos encontrardes. Indo aqueles servos pelos caminhos reuniram todos os que encontraram, maus e bons; e a sala nupcial ficou cheia de convivas. Mas, entrando o rei para ver os convivas, notou ali um homem que não trajava veste nupcial, e perguntou-lhe: Amigo, como entraste aqui sem veste nupcial? Ele, porém, emudeceu. — Então, o rei disse aos servos: Atai-o de pés e mãos, lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá o choro e o ranger de dentes. Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos".

Trata-se de um Soberano que promove um banquete de bodas, para o qual convida as pessoas gradas do seu reino. Este acontecimento deve ser tomado em acepção espiritual, visto como Jesus o relaciona e compara com o reino dos céus, conforme reza o verso 2 da alegoria em apreço. Assim, pois, o Soberano Senhor do Universo tem preparado um festim celeste, um banquete original, por isso que se não destina à gratificação dos sentidos nem visa proporcionar deleites ao corpo, mas para regozijo e conforto das almas. Essa festividade de cunho eminentemente religioso, consiste na comunhão entre os dois planos de vida — o terreno e o celestial, ou seja, na comunhão do Céu com a Terra.

Notemos que o banquete é de bodas — portanto, é festa de núpcias entre Cristo e sua igreja, participando a militante aqui da Terra e a triunfante do Além. "Onde estiveram dois ou três reunidos em meu nome, aí estarei eu no meio deles": tal é a solene promessa do Senhor, e em tal importa a constituição de sua igreja viva, estruturada de corações fiéis à sua palavra e aos seus exemplos, onde quer que se congreguem. Decorre, outrossim, desta circunstância o caráter de universalidade que distingue e assimila a igreja cristã. Assim, pois, o banquete divino a que se alude na alegoria ora comentada, consiste na eucaristia de amor que se opera toda vez que os cristãos encarnados, ainda prisioneiros da carne, entram em contacto com os cristãos libertos, recebendo o influxo bendito de sua solidariedade, e o conforto incomparável do seu afeto e simpatia.

A coragem que daí resulta, o bem que desse ósculo trocado entre os imortais e os mortais decorre transmitindo-lhes a coragem necessária para darem o testemunho da fé na imortalidade, na vida eterna anunciada pelo Cristo de Deus. Assim, e só assim, eles puderam manter-se firmes e intrépidos enfrentando o suplício, fosse esse suplício de que natureza fosse. Uma coisa é ter idéia da vida futura, aceitar e mesmo crer na imortalidade corno doutrina e como postulado da crença que adotamos, e outra coisa é sentir a realidade, a evidência da outra vida palpitar em nosso íntimo mediante o contacto dos Espíritos libertos, dos Espíritos que compõem a falange do Consolador, cuja assistência Jesus no-la promete solenemente em seu Evangelho.

Sabeis, por certo, o que é euforia. É o estado do indivíduo que se sente bem, é a sensação de abundância, de força e coragem, de valor e bom ânimo. Os seres superiores transmitem aos homens essa sensação que deles irradia naturalmente. Francisco de Assis, o grande místico, cuja vida foi um exemplo de humanidade, desfrutava a incomparável ventura de experimentar em seu íntimo a plenitude das graças celestiais, recebidas dessa fonte. Daí o seu desprezo pelas grandezas, pelos faustos e por todas as temporalidades do século. Joana D'Arc, a donzela de Orleans, aquela moça de guerra, liberta a sua pátria da invasão inimiga, mediante a influência de entidades espirituais que dela ser serviam como instrumento, provando e demonstrando ao mundo o quanto pode e de que é capaz a ação dos Espíritos sobre os mortais. Ainda nos seus últimos momentos, supliciada na fogueira acesa na praça de Ruão, Joana dizia-se amparada pelas vozes do Céu de quem recebia energia, valor e inspiração.

A humanidade terrena não está isolada do todo. As entidades do Além penetram o plano terráqueo influindo positivamente nos atos e na conduta humana. As duas sociedades se encontram nos mútuos e recíprocos fenômenos de ação e reação. João, em seu transcendente evangelho, diz que a lei veio por Moisés, porém a verdade e a graça nos são dadas mediante Jesus Cristo. Isto importa no fato de Moisés ter sido o intérprete da Lei, o escolhido para transmitir aos homens o teor do código divino expresso no Decálogo. A Jesus, porém, foi cometida a missão de completar o espírito da Lei, a obra de Justiça que deve culminar na Misericórdia. Por isso, a Ele compete presidir ao banquete celeste de entrelaçamento das almas — de um e de outro hemisfério, como lídima expressão da suprema graça concedida aos homens. Nós, míseros pecadores, podemos participar, por esse meio, da felicidade que fruem os Espíritos Superiores, os veros discípulos e apóstolos do Mestre Excelso, que já conquistaram a imortalidade integrando-se na vida eterna.

E não é só a graça que Jesus nos traz: Ele é também o portador da Verdade, dessa Verdade que é mais do que a ciência porque é sabedoria. Queremos nos reportar às revelações. Os maiores conhecimentos, as mais extraordinárias descobertas as mais estupendas conquistas que o homem tem alcançado na terra, procedem da revelação. O homem é sempre, creia ou não creia, dirigido, orientado e conduzido pelos Seres Superiores, que carinhosamente acompanham seus passos no caminho de todas as tentativas nobres e elevadas a que o homem dedica os seus esforços e a sua inteligência. A inspiração, porém, como a graça, apressamo-nos em assinalar, não vem para os indolentes, para os comodistas, gozadores e abúlicos, mas para os operosos e diligentes, adotem eles esta ou aquela crença, pouco importa. É o prêmio destinado aos que se esforçam e perseveram, aos que porfiam e lutam sem esmorecimento. É da fonte inexaurível da inspiração que emana a linfa cristalina e pura que mitiga a sede de saber, a sede de arte, a sede de Justiça, do bem, do belo e do verdadeiro que padecem as almas nobres, os Espíritos varonis.

Bem-aventurados os que têm fome e sede de Justiça porque serão saciados— eis a promessa que se cumpre no manancial das várias formas de revelações, sempre renovadas, frescas e progressivas. Prossigamos, agora, nossos comentários sobre a passagem em questão. Preparado o festim, o Senhor e Soberano despachou emissários convidando as pessoas gradas para assistir a ele. Estas, porém, desdenharam o convite real, entregando-se às suas ocupações habituais. Fizeram ainda mais: ultrajaram os régios mandatários, perseguiram-nos e até assassinaram alguns deles. Este passo da parábola refere-se claramente às revelações e advertências transmitidas pelos profetas, que era como se denominavam os médiuns, na antiguidade. Essas mensagens celestes, que deviam interessar aos mais avançados e mais responsáveis, por isso que dirigentes, foram sistematicamente desprezadas e ridicularizadas. Aqueles, portanto, cuja posição social justificava a primazia do convite, não se mostraram dignos dessa distinção.

Generalizando o caso, vemos que, realmente, é o que tem sucedido em toda parte, com relação à atitude dos membros da elite social diante das manifestações do plano espiritual. Tanto os ditos intelectuais, como aqueles que por outros motivos e razões ocupam posição de destaque na sociedade, receberam aqueles testemunhos de outra vida, com sarcasmos, levando-os ao ridículo. Os encarregados ou escolhidos do Senhor para funcionar como instrumentos do Alto, foram perseguidos, encarcerados e cobertos de opróbios. Tal tem sido, através dos séculos, salvo raras e honrosas exceções, o procedimento dos homens de maior responsabilidade pelos destinos das gentes por isso que exercem autoridade sobre as massas populares. Portanto, como diz o texto, os primeiros convidados mostraram-se indignos da prerrogativa que lhes fora conferida.

Chegamos à parte mais interessante deste apólogo, visto como nos diz respeito muito de perto. Este tópico reporta-se evidentemente ao advento do Espiritismo. O surto invulgar que esta doutrina tomou em pouco mais de meio século, tempo este que muito pouco representa para a evolução de uma idéia, é realmente espantoso. Por toda parte fala-se no Espiritismo. Não há recanto da terra onde não se comentem os postulados da nova fé; não há família em cujo seio não se tenha dado algum fenômeno espírita. Em todos os meios sociais o Espiritismo constitui tema e assunto de discussões. Da choupana do pobre ao palácio dos abastados; dos insipientes aos eruditos; dos grandes aos párias — vão-se veiculando as idéias espíritas em marcha insopitável, num surto incoercível, que nenhuma força ou poder adverso pode sustar. Todas as formas de mediunidade estão em franca eclosão. As de natureza mais empolgantes, tais como a de materialização e voz direta, outrora raras, vão-se vulgarizando.

A mediunidade de incorporação, mediante a qual é possível a cirurgiões do espaço realizarem intervenções de baixa e alta cirurgia; a tiptológica, a de transportes, de vidência e audição pululam aqui e acolá. A mediunidade mecânica que, através de Francisco Cândido Xavier, tem assombrado os pensadores honestos desta Pátria do Evangelho, pela sua fertilidade invulgar e pelas provas incontestáveis de autenticidade de que se reveste, desafiando a crítica mais exigente dos mais pirrônicos negativistas. Tudo isso é o que, se não a generalização do convite, ora extensivo a todos, sem distinção de classe e, mesmo, de méritos? A figura parabólica torna-se patente como o sol a pino. Só não a verá os cegos que obstinadamente fecharam os olhos para permanecerem nas trevas. As portas do salão nupcial estão abertas de par em par. O acesso é franqueado aos que o quiserem. Por isso, o augusto recinto está repleto de convivas bons e maus. Notemos bem este pormenor: bons e maus, não há escolha, não há seleção, não há preferência — os que o quiserem, podem entrar, sem nenhum impedimento.

Esta figura parabólica também se acha plenamente concretizada na história do Espiritismo. Os charlatões e impostores de alto e baixo coturnos apresentam-se rotulados de espíritas, pontificando em nome da Terceira Revelação. Os mercantilizadores, os exploradores da ingenuidade, da crendice e da ignorância exercem seu ignominioso comércio, a sua indecorosa e execrável simonia. Macumbeiros e feiticeiros são classificados e tidos como expressão do que se convencionou denominar — baixo espiritismo. Adeptos de todos os matizes engrossam as fieiras do novo credo: leais e dissimuladores; crentes verazes cujas convicções são baseadas no raciocínio e na observação; crentes que comprovam a justeza de sua fé pelas transformações que imprimem em si próprios; crédulos que tudo aceitam sem exame nem estudo e cujos caracteres não se modificam, permanecendo tais quais eram antes de se dizerem espíritas; estudiosos e diligentes que pedem, batem e procuram, agindo como quem sabe que o Espiritismo nada promete aos preguiçosos; curiosos, amantes de sensação, que só querem ver fenômenos, maravilhas e prodígios; almas sensitivas que desejam aprimorar seus sentimentos educando os próprios corações; homens honestos que vêm no Espiritismo a força única capaz de tirar o mundo do caos onde se debate; almas possuídas de fé que aguardam serenas e calmas o cumprimento da palavra evangélica; indivíduos atrabiliários, demagogistas, inovadores, irrequietos e insofridos — em suma — toda essa amálgama, todos esses elementos heterogêneos, com aspirações díspares e objetivos antagônicos entram no salão de bodas, confirmando o que reza o texto evangélico:

Convidai indistintamente a quantos encontrardes pelas encruzilhadas dos caminhos: bons e maus. Gravemos indelevelmente em nossa mente essa particularidade, para que não nos escandalizemos a cada momento nem tenhamos decepções que nos possam arrefecer o entusiasmo e entibiar o ardor com que devemos pugnar pela vitória da verdade. Lembremo-nos de que a árvore se conhece pelos frutos, e mais ainda — que a cada um será dado segundo as suas obras. No decorrer animado e tumultuoso do festim nupcial, o Soberano Senhor entra no salão e, observando os convivas, nota que ali se acha alguém com indumentária comum, isto é, sem o traje próprio e adequado àquela cerimônia. Interroga-o então: Amigo, como entraste aqui sem veste ou túnica nupcial? O interpelado, porém, emudece. Continuando, disse o rei aos servos: Atai-o de pés e mãos, e lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes. Porque muitos são os chamados, mas poucos escolhidos — versos 11 a 14.

A exegese deste tópico com que o Divino Mestre fecha a parábola, é de tal evidência, que por si mesma se impõe. A veste nupcial prefigura o escrúpulo, o respeito e a santidade de que se devem revestir aqueles que tomam parte em sessões espíritas. Quando Moisés percebeu os primeiros sinais da manifestação celestial que o procurava para transmitir-lhe o Decálogo, ouviu uma voz que dizia: Descalça as tuas sandálias porque é santa a terra que pisas. Santa, por quê? Porque naquele local ia verificar-se o consórcio do céu com a terra, dos seres imortais, mensageiros e delegados de Deus com o homem. Da mesma sorte, hoje sucede. A comunhão com os Espíritos do Senhor é a eucaristia viva, eucaristia da graça com que deus favorece o pecador através do seu Ungido, Cristo Jesus. O sentimento do bem, o desejo de alcançar mais um pouco de luz, como processo e meio de melhorar suas condições morais e intelectuais — tais são os objetivos que justificam a sagrada eucaristia.

O espírito de religiosidade, a máxima sinceridade, o anseio de vencer os defeitos próprios, a vontade de contribuir para minorar as a-Iheias aflições, de mitigar as dores do próximo, quer físicas quer psíquicas, eis os fios com que se tece e urde a túnica nupcial para o divino banquete. Comparecer ali, com as vestes da curiosidade, da presunção e do orgulho, de interesses inconfessáveis, de objetivos e malsão — é expor-se a consequências funestas que variam da obsessão e possessão ao confusionismo, ao estado caótico em que o indivíduo, como Pilatos, começa a indagar: o que é a verdade? Stainton Moses, autor da obra — Ensinos Espiritualistas — cuja leitura recomendamos, narra, naquele livro, o que lhe sucedeu em uma sessão espírita onde compareceu despreocupadamente, assim como quem vai assistir a um espetáculo. Após os acontecimentos que então se deram com ele, dos quais quase resultou a sua morte, Stainton Moses — médico culto e experimentado — aconselha que jamais se promovam reuniões e trabalhos espíritas desacompanhados do espírito religioso, que deve presidi-las.

E, por falar nesse espírito religioso, lembrado pelo autor em apreço, ocorre-nos à mente que certos espíritas pretendem que o Espiritismo seja ciência, tão somente ciência, nada tendo que ver com religião, por isso que é doutrina isenta de ritos e cerimônias. A nosso ver, esse juízo é destituído de fundamento, procede de uma falsa visão. Em que ramo da ciência estará o Espiritismo? Estará acaso na Química, na Física, na Astronomia, na Fisiologia, na Botânica ou na Sociologia? Ou se fará mister criar um vocábulo novo, com pronúncia arrevezada, de raiz grega, para substituir o nome plebeu com que o batizaram? O Espiritismo está em todos os ramos da ciência, sendo ainda a ciência do coração, a ciência da moral, do Destino, numa palavra — a ciência da vida, por isso que veio comprovar a imortalidade. Cumpre também considerar que uma das suas grandes realizações consiste precisamente na conjugação que veio estabelecer entre a ciência e a religião, a fé e a razão, apagando as causas de dissídio entre aquelas expressões.

Com o seu advento a "fé encara a razão face a face em todas as épocas da humanidade", e a religião caminha de mãos dadas com a ciência, visto como se a pequena ciência nega a Divindade, a grande ciência a confirma e atesta em todas as suas mais transcendentes conquistas, em todas as suas mais empolgantes pesquisas e indagações, promovendo assim a religião do homem com Deus, o que importa no verdadeiro espírito da religião. Assim o compreendeu o grande sábio Flammarion, astrônomo e matemático, conforme vemos em sua belíssima obra intitulada: DEUS NA NATUREZA, livro primorosos através de cujas páginas aprendemos a admirar a Divindade no altar santíssimo da sua infinita criação. Acaso, Flammarion consideraria o Espiritismo apenas como ciência, quando escreveu a citada produção? Se o Espiritismo não contivesse em sua estrutura o ideal religioso, não sabemos por que Kardec, o compilador dos seus postulados, se referiu à fé, à moral cristã, aos ensinamentos e aos exemplos do humilde filho do carpinteiro, intitulando um dos seus livros: O Evangelho segundo o Espiritismo.

Não compreendemos igualmente por que denominam o Espiritismo de Terceira Revelação. Ora, revelação é mensagem dos Espíritos Superiores, contendo advertência, conselhos e exortações de natureza moral, relativa ao procedimento e à conduta dos homens. Reportam-se geralmente à lei que rege o nosso destino, às consequências Dos nossos atos repercutindo no outro plano da vida; não tratam precisamente de assuntos científicos na acepção em que os homens tomam essas expressões. Revelação é termo de significado puramente religioso, sendo neste conceito que está aplicado ao Espiritismo. Tirai do Espiritismo o cunho religioso, e tereis, com isso, abolido a sua missão de consolar, de suavizar e lenir as dores humanas, destituindo-o dessa maneira do seu mais belo e glorioso apanágio.

Tirai do Espiritismo o seu caráter religioso e tereis destruído nele aquele poder miraculoso de enxugar o pranto dos aflitos, convertendo em gozo os mais acerbados sofrimentos, conforme tem feito e continua fazendo. Tirai do Espiritismo a feição religiosa e tereis secado a sua fonte de bênçãos e de conforto moral, onde tantas almas sedentas de amor se têm saciado. Tirai, finalmente, do Espiritismo a sua qualidade de religião e tê-lo-eis reduzido à fria condição de objeto de curiosidade e de especulações meramente diletantes, inócuas e estéreis, quando não fossem prejudiciais, por isso que sem finalidade moral. O Espiritismo encerra um programa educacional completo: dirige-se ao cérebro e ao coração, promove o culto da inteligência ao lado do culto do sentimento.

Mas, não nos admiremos de que nem todos ainda o vejam por esse prisma; o salão está cheio de convivas de toda a espécie. Soa, no entando, a hora da seleção. O mundo atravessa uma crise de reajustamento sob todos os aspectos e em todos os setores de atividade humana. Aproxima-se, pois, o momento em que se cumprirá a profecia contida na derradeira sentença desta parábola: MUITOS SÃO OS CHAMADOS, MAS POUCOS OS ESCOLHIDOS. Quanto aos que não envergam a túnica nupcial, colherão os efeitos de sua atitude irreverente, caindo no confusionismo, deblaterando no caos, sem rumo, impossibilitados de prosseguir em seus intentos criminosos, conforme prefigura a sentença do promotor do festim: Amarrai-o de pés e mãos e lançai-o nas trevas exteriores: ali haverá choro e ranger de dentes.

PEDRO DE CAMARGO "VINICIUS"

3 - PAULO ALVES GODOY

Estranho banquete este, para o qual o anfitrião teve necesssidade de enviar os seus servos para chamar os convidados, e estes recusaram ao ponto de ultrajar e matar os portadores dos convites.

O rei, que patrocinava as Bodas, excedendo-se ainda mais, mandou matar aqueles que recusaram o convite e, após essa barbaridade, ordenou que suas cidades fossem incendiadas, dando ordens para que novos convidados, mais dignos, fossem chamados, sem qualquer distinção entre bons e maus, ricos e pobres, o que pressupõe que o traje não fosse de rigor, e os pobres pudessem ali penetrar com as únicas roupas que possuíam. Mas, outra incongruência ocorreu, pois um dos convivas, encontrado sem as vestes nupciais, foi atado de pés e mãos e lançado, onde haveria pranto e ranger de dentes.

A circunstância de haver relutância em se aceitar o convite para um banquete, chegando-se ao inconcebivel de aniqüilar os portadores dos convites, significa que o banquete só poderia ser representado por encargos ou chamamento à responsabilidade.

Há paradoxo na narração em se tratando de um festim material, não acontecendo o mesmo se procurarmos encontrar a interpretação espiritual que ela encena, o que tentaremos fazer:

O Criador, em Sua infinita misericórdia, achou que o povo judeu, monoteísta e religioso, havia atingido um ponto de maturidade suficiente para difundir uma Nova Revelação para toda a Humanidade, como prelúdio da grandiosa missão que o Ungido de Deus viria desempenhar mais tarde.

Os Dez Mandamentos foram, então, revelados, os quais passaram a representar perene convite às criaturas humanas no sentido de se precatarem contra os desregramentos e os desmandos.

Todos os judeus foram assim convidados para uma senda melhor, mais pura, mais eficiente. Mas, isso significava o abandono de muitas vantagens materiais, portanto, o convite não foi aceito, e os profetas e missionários, encarregados de despertar essas criaturas para o Bem, insistindo no convite generoso, foram ultrajados e mortos.

O Senhor, vendo a sanha feroz e a iniqüidade que minava o povo, o qual vinha sendo preparado para tão excelsa missão, deixou que as leis imutáveis e inexoráveis, que regem a Humanidade, tivessem aplicação. Assim, os judeus tiveram muitas das suas cidades destruídas e muitos dos seus filhos aniqüilados, culminando essa série de ocorrências com a destruição de Jerusalém e a dispersão dos israelitas.

Disse então o Senhor: "As bodas na verdade estão preparadas, mas os convidados não foram dignos, ide pois às saídas dos caminhos e convida para as bodas todos os que encontrardes." Realmente, desta vez, os Enviados do Alto puseram-se a convidar indistintamente judeus e gentios, bons e maus, ricos e pobres, monoteístas e politeístas. Enquanto Pedro, Tiago, João e outros, desenvolviam o mais árduo esforço no sentido de convidar os judeus para o cumprimento da lei, Paulo, Barnabé, Timóteo e outros, envidavam gigantesco e eficiente apostolado em favor da conversão e integração dos gentios politeístas na comunidade cristã, que se encaminhava para o processo da aproximação com o Alto.

E a seara se tomou repleta de trabalhadores de todos os matizes e, no meio deles surgiram os interesseiros, os idolatras, os falsos profetas, os quais, apesar de se locupletarem com as iguarias do banquete dos Evangelhos, se mantiveram na posição de pedras de tropeço, de cegos que não querem ver e de falsos mentores, passando estes últimos a causar a deturpação dos ensinamentos de Jesus.

Como resposta à afirmativa de Cristo de que o Filho do homem não tinha uma pedra onde reclinar a cabeça, fizeram suntuosas casas de oração, esquecidos da advertência do Profeta de que Deus não habita em templos feitos pelas mãos dos homens.

Em réplica à admoestação do Meigo Nazareno de que se deveria ser manso e humilde de coração, criaram tribunais religiosos, engenharam instrumentos de coação e tortura, e fomentaram cruzadas fratricidas e sanguinolentas.

Contrariando os ensinos do Messias de que se deveria orar em segredo e concisamente, manipularam longas e intermináveis orações e ladainhas.

Atentando contra as palavras do Nazareno de que "O Pai não quer a morte do ímpio", de que "O Pai faz o seu sol brilhar para os bons e para os maus", de que "ninguém verá o reino dos Céus sem renascer de novo", de que "o pai não paga o pecado do filho, nem o filho paga o pecado do pai", de que "a vontade do Pai é de que haja um só rebanho sob o cajado de um só pastor", de que "a cada um será dado segundo as suas obras", criaram uma infinidade de dogmas e preceitos incríveis que tomaram o nome de pecado original, de penas eternas, de unicidade das existências terrenas, de salvação pela graça, impingindo ainda a crença na existência de um inferno circunscrito e de um céu privilegiado.

Sustentando a ferro e fogo esses princípios, alguns dos convidados deixaram de se revestir das vestes nupciais enquanto perambulavam pela Terra, apresentando-se no mundo espiritual com o perispírito revestido de densas manchas por terem mantido a luz debaixo do velador. A estes, os mensageiros da vontade de Deus dirão: - Amigo, como queres entrar aqui sem usar as vestes nupciais? Não lhe restando outra solução senão serem relegados aos planos de sofrimento espiritual, onde há prantos e ranger de dentes.

O Reino dos Céus não se toma de assalto - asseverou Jesus; e é notório que somente aqueles que cumprem com o dever, são bons e misericordiosos, alcançam a perfeição pelo esforço próprio, se tornando pacificadores, e dessa oportunidade podem se revestir das diáfanas vestes dos anjos. Essa aquisição não se, faz numa só vida na Terra, mas em jornadas prolongadas no decurso de milhares ou milhões de anos.

Não basta ser seguidor de determinada fé para se adquirir essas excelsas qualidades espirituais; é imprescindível o trabalho de vanguarda, o esforço incessante, o cultivo das virtudes cristãs.

Os participantes das Bodas, que não se revestiram das vestes nupciais, transformaram os suculentos manjares do Evangelho em indigesto cardápio.

Paulo Alves Godoy

4 - RODOLFO CALLIGARIS

Parábolas, como sabemos, são narrações alegóricas, encerrando doutrina moral.

Jesus, pedagogo emérito, recorria frequentemente a elas, já porque era a melhor maneira de interessar os seus ouvintes, já também porque sabia que é muito mais fácil assimilar e reter qualquer ensinamento, quando materialiizado, isto é, objetivado através de um enredo, do que quando ministrado de forma subjetiva.

Na parábola em tela, o Rei é Deus, nosso Pai Celestial, e o festim de bodas, é claro, simboliza o Reino dos Céus, cujo advento coube a Cristo Jesus anunciar e preparar, pela pregação de seu Evangelho.

Os primeiros convidados são os hebreus, pois a eles é que foram enviados os primeiros emissários, ou sejam, os profetas, anunciando-lhes a vinda do Messias, bem assim exortando-os a que se arrependessem de seus erros e se conduzissem de forma mais condizente com as Leis Divinas reveladas no monte Sinai.

A palavras desses emissários, porém, não encontrou receptividade entre os hebreus, que lhes desprezaram as advertências e exortações.

Não obstante a má vontade manifestada por eles, à semelhança da parábola, envia-lhes Deus o próprio Jesus, a fim de lhes recordar e aperfeiçoar o conteúdo daquelas Leis, cuja observância lhes daria a conhecer o estado de alegria e gozo espiritual que constitui o Reino dos Céus. Todavia, sobremaneira preocupados em conseguir vantagens puramente materiais (os hebreus aspiravam à hegemonia política do mundo), escusaram-se de novo, sendo que alguns, enervando-se com tal insistência, não só repeliram a mensagem do Cristo, como ainda o ultrajaram e o imolaram na cruz.

Continua a parábola, dizendo: "Diante dissso, o rei enviou exércitos contra os assassinos, que foram exterminados, bem assim queimada a sua cidade." O que aconteceu aos hebreus, posteriormente à crucificação de Jesus, todos o sabem, corresponde exatamente a esse trecho da narrativa: foram trucidados pelos romanos, e sua capital, Jerusalém, foi quase totalmente destruída.

"Depois, mandou o rei convidar· a todos quantos fossem encontrados nas encruzilhadas, bons e maus", o que significa que o Evangelho seria pregado a todos os povos, pagãos e idólatras, e que estes, acolhendo a Boa Nova, seriam admitidos ao festim em lugar dos primeiros convidados, que se mostraram indignos dele.

Não basta, porém, ser convidado; quer dizer, não é suficiente dizer-se membro desta ou daquela Igreja, para tomar parte no banquete celestial. Faz-se necessário, como condição expressa e indipensável, estar-se revestido da "túnica nupcial", isto é, possuir aquela pureza, mansuetude e bondade que caracterizam os verdadeiros cristãos.

Os hipócritas, os que se comprazem na indecência, os belicosos, os que defraudam e sacrificam seus semelhantes, os que vivem exclusivamente para si, indiferentes às dores e às aflições do próximo, estes, embora convidados a participar das bodas, serão encontrados sem as "vestes" adequadas e, pois, não poderão permanecer entre os demais, sendo lançados fora.

Eis porque disse Jesus: Chamados haverá muitos; poucos, no entanto, serão os escolhidos.

Rodolfo Calligaris

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