Introdução
I. Objetivo desta obra - II. Autoridade da doutrina espírita. Controle universal do ensino dos espíritos - III. Notícias históricas - IV. Sócrates e Platão, precursores da idéia cristã e do Espiritismo - Resumo da doutrina de Sócrates e Platão
I. Objetivo desta obra
Podem dividir-se em cinco partes as matérias contidas nos Evangelhos: os atos comuns da vida do Cristo; os milagres; as predições; as palavras que foram tomadas pela Igreja para fundamento de seus dogmas; e o ensino moral. As
quatro primeiras têm sido objeto de controvérsias; a última, porém,
conservou-se constantemente inatacável. Diante desse código divino, a
própria incredulidade se curva. É terreno onde todos os cultos podem
reunir-se, estandarte sob o qual podem todos colocar-se, quaisquer que
sejam suas crenças, porquanto jamais ele constituiu matéria das disputas
religiosas, que sempre e por toda a parte se originaram das questões
dogmáticas. Aliás, se o discutissem, nele teriam as seitas encontrado
sua própria condenação, visto que, na maioria, elas se agarram mais à
parte mística do que à parte moral, que exige de cada um a reforma de si
mesmo. Para os homens, em particular, constitui aquele código uma regra
de proceder que abrange todas as circunstancias da vida privada e da
vida pública, o principio básico de todas, as relações sociais que se
fundam na mais rigorosa justiça. E, finalmente e acima de tudo, o
roteiro infalível para a felicidade vindoura, o levantamento de uma
ponta do véu que nos oculta a vida futura. Essa parte é a que será
objeto exclusivo desta obra.
Toda a gente admira a moral evangélica; todos lhe proclamam a
sublimidade e a necessidade; muitos, porém, assim se pronunciam por fé,
confiados no que ouviram dizer, ou firmados em certas máximas que se
tornaram proverbiais. Poucos, no entanto, a conhecem a fundo e menos
ainda são os que a compreendem e lhe sabem deduzir as conseqüências. A
razão está, por muito, na dificuldade que apresenta o entendimento do
Evangelho que, para o maior número dos seus leitores, é ininteligível. A
forma alegórica e o intencional misticismo da linguagem fazem que a
maioria o leia por desencargo de consciência e por dever, como lêem as
preces, sem as entender, isto é, sem proveito. Passam-lhes despercebidos
os preceitos morais, disseminados aqui e ali, intercalados na massa das
narrativas. Impossível, então, apanhar-se-lhes o conjunto e tomá-los
para objeto de leitura e meditações especiais.
É certo que tratados já se hão escrito de moral evangélica; mas, o
arranjo em moderno estilo literário lhe tira a primitiva simplicidade
que, ao mesmo tempo, lhe constitui o encanto e a autenticidade. Outro
tanto cabe dizer-se das máximas destacadas e reduzidas à sua mais
simples expressão proverbial. Desde logo, já não passam de aforismos,
privados de uma parte do seu valor e interesse, pela ausência dos
acessórios e das circunstâncias em que foram enunciadas.
Para obviar a esses inconvenientes, reunimos, nesta obra, os artigos
que podem compor, a bem dizer, um código de moral universal, sem
distinção de culto. Nas citações, conservamos o que é útil ao
desenvolvimento da idéia, pondo de lado unicamente o que se não prende
ao assunto. Além disso, respeitamos escrupulosamente a tradução de Sacy,
assim como a divisão em versículos. Em vez, porém, de nos atermos a uma
ordem cronológica impossível e sem vantagem real para o caso, grupamos e
classificamos metodicamente as máximas, segundo as respectivas
naturezas, de modo que decorram umas das outras, tanto quanto possível. A
indicação dos números de ordem dos capítulos e dos versículos permite
se recorra à classificação vulgar, em sendo oportuno.
Esse, entretanto, seria um trabalho material que, por si só, apenas
teria secundária utilidade. O essencial era pô-lo ao alcance de todos,
mediante a explicação das passagens obscuras e o desdobramento de todas
as conseqüências, tendo em vista a aplicação dos ensinos a todas as
condições da vida. Foi o que tentamos fazer, com a ajuda dos bons
Espíritos que nos assistem.
Muitos pontos dos Evangelhos, da Bíblia e dos autores sacros em geral
só são ininteligíveis, parecendo alguns até irracionais, por falta da
chave que faculte se lhes apreenda o verdadeiro sentido. Essa chave está
completa no Espiritismo, como já o puderam reconhecer os que o têm
estudado seriamente e como todos, mais tarde, ainda melhor o
reconhecerão. O Espiritismo se nos depara por toda a parte na
antigüidade e nas diferentes épocas da Humanidade. Por toda a parte se
lhe descobrem os vestígios: nos escritos, nas crenças e nos monumentos.
Essa a razão por que, ao mesmo tempo que rasga horizontes novos para o
futuro, projeta luz não menos viva sobre os mistérios do passado.
Como complemento de cada preceito, acrescentamos algumas instruções
escolhidas, dentre as que os Espíritos ditaram em vários países e por
diferentes médiuns. Se elas fossem tiradas de uma fonte única, houveram
talvez sofrido uma influência pessoal ou a do meio, enquanto a
diversidade de origens prova que os Espíritos dão indistintamente seus
ensinos e que ninguém a esse respeito goza de qualquer privilégio. (1)
(1) Houvéramos, sem dúvida, podido apresentar,
sobre cada assunto, maior número de comunicações obtidas numa porção de
outras cidades e centros, além das que citamos. Tivemos, porém, de
evitar a monotonia das repetições inúteis e limitar a nossa escolha às
que, tanto pelo fundo quanto pela forma, se enquadravam melhor no plano
desta obra, reservando para publicações ulteriores as que não puderam
caber aqui.
Quanto aos médiuns, abstivemo-nos de nomeá-los. Na
maioria dos casos, não os designamos a pedido deles próprios e, assim
sendo, não convinha fazer exceções. Ao demais, os nomes dos médiuns
nenhum valor teriam acrescentado à obra dos Espíritos.Mencioná-los mais
não fora, então, do que satisfazer ao amor próprio, coisa a que os
médiuns verdadeiramente sérios nenhuma importância ligam. Compreendem
eles, que, por ser meramente passivo o papel que lhes toca, o valor das
comunicações em nada lhes exalça o mérito pessoal; e que seria pueril
envaidecerem-se de um trabalho de inteligência ao qual é apenas mecânico
o concurso que prestam..
Esta obra é para uso de todos. Dela podem todos haurir os meios de
conformar com a moral do Cristo o respectivo proceder. Aos espíritas
oferece aplicações que lhes concernem de modo especial. Graças às
relações estabelecidas, doravante e permanentemente, entre os homens e o
mundo invisível, a lei evangélica, que os próprios Espíritos ensinaram a
todas as nações, já não será letra morta, porque cada um a compreenderá
e se verá incessantemente compelido a pô-la em prática, a conselho de
seus guias espirituais. As instruções que promanam dos Espíritos são
verdadeiramente as vozes do céu que vêm esclarecer os homens e convidá-los à prática do Evangelho.
II. Autoridade da doutrina espírita
Controle universal do ensino dos espíritos
Se a Doutrina Espírita fosse de concepção puramente humana, não
ofereceria por penhor senão as luzes daquele que a houvesse concebido.
Ora, ninguém, neste mundo, poderia alimentar fundadamente a pretensão de
possuir, com exclusividade, a verdade absoluta. Se os Espíritos que a
revelaram se houvessem manifestado a um só homem, nada lhe garantiria a
origem, porquanto fora mister acreditar, sob palavra, naquele que
dissesse ter recebido deles o ensino. Admitida, de sua parte,
sinceridade perfeita, quando muito poderia ele convencer as pessoas de
suas relações; conseguiria sectários, mas nunca chegaria a congregar
todo o mundo.
Quis Deus que a nova revelação chegasse aos homens por mais rápido
caminho e mais autêntico. Incumbiu, pois, os Espíritos de levá-la de um
pólo a outro, manifestando-se por toda a parte, sem conferir a ninguém o
privilégio de lhes ouvir a palavra. Um homem pode ser ludibriado, pode
enganar-se a si mesmo; já não será assim, quando milhões de criaturas
vêem e ouvem a mesma coisa. Constitui isso uma garantia para cada um e
para todos. Ao demais, pode fazer-se que desapareça um homem; mas não se
pode fazer que desapareçam as coletividades; podem queimar-se os
livros, mas não se podem queimar os Espíritos. Ora, queimassem-se todos
os livros e a fonte da doutrina não deixaria de conservar-se
inexaurível, pela razão mesma de não estar na Terra, de surgir em todos
os lugares e de poderem todos dessedentar-se nela. Faltem os homens para
difundi-la: haverá sempre os Espíritos, cuja atuação a todos atinge e
aos quais ninguém pode atingir.
São, pois, os próprios Espíritos que fazem a propagação, com o
auxílio dos inúmeros médiuns que, também eles, os Espíritos, vão
suscitando de todos os lados. Se tivesse havido unicamente um
intérprete, por mais favorecido que fosse, o Espiritismo mal seria
conhecido. Qualquer que fosse a classe a que pertencesse, tal intérprete
houvera sido objeto das prevenções de muita gente e nem todas as nações
o teriam aceitado, ao passo que os Espíritos se comunicam em todos os
pontos da Terra, a todos os povos, a todas as seitas, a todos os
partidos, e todos os aceitam. O Espiritismo não tem nacionalidade e não
faz parte de nenhum culto existente; nenhuma classe social o impõe,
visto que qualquer pessoa pode receber instruções de seus parentes e
amigos de além-túmulo. Cumpre seja assim, para que ele possa conduzir
todos os homens à fraternidade. Se não se mantivesse em terreno neutro,
alimentaria as dissensões, em vez de apaziguá-las.
Nessa universalidade do ensino dos Espíritos reside a força do
Espiritismo e, também, a causa de sua tão rápida propagação. Enquanto a
palavra de um só homem, mesmo com o concurso da imprensa, levaria
séculos para chegar ao conhecimento de todos, milhares de vozes se fazem
ouvir simultaneamente em todos os recantos do planeta, proclamando os
mesmos princípios e transmitindo-os aos mais ignorantes, como aos mais
doutos, a fim de que não haja deserdados. É uma vantagem de que não
gozara ainda nenhuma das doutrinas surgidas até hoje. Se o Espiritismo,
portanto, é uma verdade, não teme o malquerer dos homens, nem as
revoluções morais, nem as subversões físicas do globo, porque nada disso
pode atingir os Espíritos.
Não é essa, porém, a única vantagem que lhe decorre da sua
excepcional posição. Ela lhe faculta inatacável garantia contra todos os
cismas que pudessem provir, seja da ambição de alguns, seja das
contradições de certos Espíritos. Tais contradições, não há negar, são
um escolho; mas que traz consigo o remédio, ao lado do mal.
Sabe-se que os Espíritos, em virtude da diferença entre as suas
capacidades, longe se acham de estar, individualmente considerados, na
posse de toda a verdade; que nem a todos é dado penetrar certos
mistérios; que o saber de cada um deles é proporcional à sua depuração;
que os Espíritos vulgares mais não sabem do que muitos homens; que entre
eles, como entre estes, há presunçosos e sofômanos, que julgam saber o
que ignoram; sistemáticos, que tomam por verdades as suas idéias; enfim,
que só os Espíritos da categoria mais elevada, os que já estão
completamente desmaterializados, se encontram despidos das idéias e
preconceitos terrenos; mas, também é sabido que os Espíritos enganadores
não escrupulizam em tomar nomes que lhes não pertencem, para impingirem
suas utopias. Daí resulta que, com relação a tudo o que seja fora do
âmbito do ensino exclusivamente moral, as revelações que cada um possa
receber terão caráter individual, sem cunho de autenticidade; que devem
ser consideradas opiniões pessoais de tal ou qual Espírito e que
imprudente fora aceitá-las e propagá-las levianamente como verdades
absolutas.
O primeiro exame comprobativo é, pois, sem contradita, o da razão, ao
qual cumpre se submeta, sem exceção, tudo o que venha dos Espíritos.
Toda teoria em manifesta contradição com o bom senso, com uma lógica
rigorosa e com os dados positivos já adquiridos, deve ser rejeitada, por
mais respeitável que seja o nome que traga como assinatura. Incompleto,
porém, ficará esse exame em muitos casos, por efeito da falta de luzes
de certas pessoas e das tendências de não poucas a tomar as próprias
opiniões como juizes únicos da verdade. Assim sendo, que hão de fazer
aqueles que não depositam confiança absoluta em si mesmos? Buscar o
parecer da maioria e tomar por guia a opinião desta. De tal modo é que
se deve proceder em face do que digam os Espíritos, que são os primeiros
a nos fornecer os meios de consegui-lo.
A concordância no que ensinem os Espíritos é, pois, a melhor
comprovação. Importa, no entanto, que ela se dê em determinadas
condições. A mais fraca de todas ocorre quando um médium, a sós,
interroga muitos Espíritos acerca de um ponto duvidoso. É evidente que,
se ele estiver sob o império de uma obsessão, ou lidando com um Espírito
mistificador, este lhe pode dizer a mesma coisa sob diferentes nomes.
Tampouco garantia alguma suficiente haverá na conformidade que apresente
o que se possa obter por diversos médiuns, num mesmo centro, porque
podem estar todos sob a mesma influência.
Uma só garantia séria existe para o ensino dos Espíritos: a
concordância que haja entre as revelações que eles façam
espontaneamente, servindo-se de grande número de médiuns estranhos uns
aos outros e em vários lugares.
Vê-se bem que não se trata aqui das comunicações referentes a
interesses secundários, mas do que respeita aos princípios mesmos da
doutrina. Prova a experiência que, quando um principio novo tem de ser
enunciado, isso se dá espontaneamente em diversos pontos ao mesmo tempo e de modo idêntico, senão quanto à forma, quanto ao fundo.
Se, portanto, aprouver a um Espírito formular um sistema excêntrico,
baseado unicamente nas suas idéias e com exclusão da verdade, pode
ter-se a certeza de que tal sistema conservar-se-á circunscrito e
cairá, diante das instruções dadas de todas as partes, conforme os
múltiplos exemplos que já se conhecem. Foi essa unanimidade que pôs por
terra todos os sistemas parciais que surgiram na origem do Espiritismo,
quando cada um explicava à sua maneira os fenômenos, e antes que se
conhecessem as leis que regem as relações entre o mundo visível e o
mundo invisível.
Essa a base em que nos apoiamos, quando formulamos um principio da
doutrina. Não é porque esteja de acordo com as nossas idéias que o temos
por verdadeiro. Não nos arvoramos, absolutamente, em árbitro supremo da
verdade e a ninguém dizemos: "Crede em tal coisa, porque somos nós que
vo-lo dizemos." A nossa opinião não passa, aos nossos próprios olhos, de
uma opinião pessoal, que pode ser verdadeira ou falsa, visto não nos
considerarmos mais infalível do que qualquer outro. Também não é porque
um principio nos foi ensinado que, para nós, ele exprime a verdade, mas
porque recebeu a sanção da concordância.
Na posição em que nos encontramos, a receber comunicações de perto de
mil centros espiritas sérios, disseminados pelos mais diversos pontos
da Terra, achamo-nos em condições de observar sobre que principio se
estabelece a concordância. Essa observação é que nos tem guiado até hoje
e é a que nos guiará em novos campos que o Espiritismo terá de
explorar. Porque, estudando atentamente as comunicações vindas tanto da
França como do estrangeiro, reconhecemos, pela natureza toda especial
das revelações, que ele tende a entrar por um novo caminho e que lhe
chegou o momento de dar um passo para diante. Essas revelações, feitas
muitas vezes com palavras veladas, hão freqüentemente passado
despercebidas a muitos dos que as obtiveram. Outros julgaram-se os
únicos a possui-las. Tomadas insuladamente, elas, para nós, nenhum valor
teriam; somente a coincidência lhes imprime gravidade. Depois, chegado o
momento de serem entregues à publicidade, cada um se lembrará de haver
obtido instruções no mesmo sentido. Esse movimento geral, que observamos
e estudamos, com a assistência dos nossos guias espirituais, é que nos
auxilia a julgar da oportunidade de fazermos ou não alguma coisa
Essa verificação universal constitui uma garantia para a unidade
futura do Espiritismo e anulará todas as teorias contraditórias. Aí é
que, no porvir, se encontrará o critério da verdade. O que deu lugar ao
êxito da doutrina exposta em O Livro dos Espíritos e em O Livro dos Médiuns foi
que em toda a parte todos receberam diretamente dos Espíritos a
confirmação do que esses livros contêm. Se de todos os lados tivessem
vindo os Espíritos contradizê-la, já de há muito haveriam aquelas obras
experimentado a sorte de todas as concepções fantásticas. Nem mesmo o
apoio da imprensa as salvaria do naufrágio, ao passo que, privadas como
se viram desse apoio, não deixaram elas de abrir caminho e de avançar
celeremente. E que tiveram o dos Espíritos, cuja boa vontade não só
compensou, como também sobrepujou o malquerer dos homens. Assim sucederá
a todas as idéias que, emanando quer dos Espíritos, quer dos homens,
não possam suportar a prova desse confronto, cuja força a ninguém é
lícito contestar.
Suponhamos praza a alguns Espíritos ditar, sob qualquer título, um
livro em sentido contrário; suponhamos mesmo que, com intenção hostil,
objetivando desacreditar a doutrina, a malevolência suscitasse
comunicações apócrifas; que influência poderiam exercer tais escritos,
desde que de todos os lados os desmentissem os Espíritos? E com a adesão
destes que se deve garantir aquele que queira lançar, em seu nome, um
sistema qualquer. Do sistema de um só ao de todos, medeia a distancia
que vai da unidade ao infinito. Que poderão conseguir os argumentos dos
detratores, sobre a opinião das massas, quando milhões de vozes amigas,
provindas do Espaço, se façam ouvir em todos os recantos do Universo e
no seio das famílias, a infirmá-los? A esse respeito já não foi a teoria
confirmada pela experiência? Que é feito das inúmeras publicações que
traziam a pretensão de arrasar o Espiritismo? Qual a que, sequer, lhe
retardou a marcha? Até agora, não se considera a questão desse ponto de
vista, sem contestação um dos mais graves. Cada um contou consigo, sem
contar com os Espíritos.
O princípio da concordância é também uma garantia contra as
alterações que poderiam sujeitar o Espiritismo às seitas que se
propusessem apoderar-se dele em proveito próprio e acomodá-lo a vontade.
Quem quer que tentasse desviá-lo do seu providencial objetivo,
malsucedido se veria, pela razão muito simples de que os Espíritos, em
virtude da universalidade de seus ensinos, farão cair por terra qualquer
modificação que se divorcie da verdade.
De tudo isso ressalta uma verdade capital: a de que aquele que
quisesse opor-se à corrente de idéias estabelecida e sancionada poderia,
é certo, causar uma pequena perturbação local e momentânea; nunca,
porém, dominar o conjunto, mesmo no presente, nem, ainda menos, no
futuro.
Também ressalta que as instruções dadas pelos Espíritos sobre os
pontos ainda não elucidados da Doutrina não constituirão lei, enquanto
essas instruções permanecerem insuladas; que elas não devem, por
conseguinte, ser aceitas senão sob todas as reservas e a título de
esclarecimento.
Daí a necessidade da maior prudência em dar-lhes publicidade; e, caso
se julgue conveniente publicá-las, importa não as apresentar senão como
opiniões individuais, mais ou menos prováveis, porém, carecendo sempre
de confirmação. Essa confirmação é que se precisa aguardar, antes de
apresentar um princípio como verdade absoluta, a menos se queira ser
acusado de leviandade ou de credulidade irrefletida.
Com extrema sabedoria procedem os Espíritos superiores em suas
revelações. Não atacam as grandes questões da Doutrina senão
gradualmente, à medida que a inteligência se mostra apta a compreender
verdade de ordem mais elevada e quando as circunstâncias se revelam
propicias à emissão de uma idéia nova. Por isso é que logo de principio
não disseram tudo, e tudo ainda hoje não disseram, jamais cedendo à
impaciência dos muito afoitos, que querem os frutos antes de estarem
maduros. Fora, pois, supérfluo pretender adiantar-se ao tempo que a
Providência assinou para cada coisa, porque, então, os Espíritos
verdadeiramente sérios negariam o seu concurso. Os Espíritos levianos,
pouco se preocupando com a verdade, a tudo respondem; daí vem que, sobre
todas as questões prematuras, há sempre respostas contraditórias.
Os princípios acima não resultam de uma teoria pessoal: são
conseqüência forçada das condições em que os Espíritos se manifestam. E
evidente que, se um Espírito diz uma coisa de um lado, enquanto milhões
de outros dizem o contrário algures, a presunção de verdade não pode
estar com aquele que é o único ou quase o único de tal parecer. Ora,
pretender alguém ter razão contra todos seria tão ilógico da parte dos
Espíritos, quanto da parte dos homens. Os Espíritos verdadeiramente
ponderados, se não se sentem suficientemente esclarecidos sobre uma
questão, nunca a resolvem de modo absoluto; declaram que apenas a tratam do seu ponto de vista e aconselham que se aguarde a confirmação.
Por grande, bela e justa que seja uma idéia, impossível é que desde o
primeiro momento congregue todas as opiniões. Os conflitos que daí
decorrem são conseqüência inevitável do movimento que se opera; eles são
mesmo necessários para maior realce da verdade e convém se produzam
desde logo, para que as idéias falsas prontamente sejam postas de lado.
Os espíritas que a esse respeito alimentassem qualquer temor podem ficar
perfeitamente tranqüilos: todas as pretensões insuladas cairão, pela
força mesma das coisas, diante do enorme e poderoso critério da
concordância universal.
Não será à opinião de um homem que se aliarão os outros, mas à voz unânime dos Espíritos; não será um homem, nem nós, nem qualquer outro que
fundará a ortodoxia espírita; tampouco será um Espírito que se venha
impor a quem quer que seja: será a universalidade dos Espíritos que se
comunicam em toda a Terra, por ordem e eus. Esse o caráter essencial da
Doutrina Espírita; essa a sua força, a sua autoridade. Quis Deus que a
sua lei assentasse em base inamovível e por isso não lhe deu por
fundamento a cabeça frágil de um só.
Diante de tão poderoso areópago, onde não se conhecem corrilhos, nem
rivalidades ciosas, nem seitas, nem nações, é que virão quebrar-se todas
as oposições, todas as ambições, todas as pretensões à supremacia
individual; é que nos quebraríamos nós mesmos, se quiséssemos substituir os seus decretos soberanos pelas nossas próprias idéias. Só
Ele decidirá todas as questões litigiosas, imporá silêncio às
dissidências e dará razão a quem a tenha. Diante desse imponente acordo
de todas as vozes do Céu, que pode a opinião de um homem ou de um
Espírito? menos do que a gota d’água que se perde no oceano, menos do
que a voz da criança que a tempestade abafa.
A opinião universal, eis o juiz supremo, o que se pronuncia em última
instância. Formam-na todas as opiniões individuais. Se uma destas é
verdadeira, apenas tem na balança o seu peso relativo. Se é falsa, não
pode prevalecer sobre todas as demais. Nesse imenso concurso, as
individualidades se apagam, o que constitui novo insucesso para o
orgulho humano.
Já se desenha o harmonioso conjunto. Este século não passará sem que
ele resplandeça em todo o seu brilho, de modo a dissipar todas as
incertezas, porquanto daqui até lá potentes vozes terão recebido a
missão de se fazerem ouvir, para congregar os homens sob a mesma
bandeira, uma vez que o campo se ache suficientemente lavrado. Enquanto
isso se não dá, aquele que flutue entre dois sistemas opostos pode
observar em que sentido se forma a opinião geral; essa será a indicação
certa do sentido em que se pronuncia a maioria dos Espíritos, nos
diversos pontos em que se comunicam, e um sinal não menos certo de qual
dos dois sistemas prevalecerá.
III. Notícias históricas
Para bem se compreenderem algumas passagens dos Evangelhos,
necessário se faz conhecer o valor de muitas palavras neles
freqüentemente empregadas e que caracterizam o estado dos costumes e da
sociedade judia naquela época. Já não tendo para nós o mesmo sentido,
essas palavras foram com freqüência mal-interpretadas, causando isso uma
espécie de incerteza. A inteligência da significação delas explica, ao
demais, o verdadeiro sentido de certas máximas que, à primeira vista,
parecem singulares.
Escribas. - Nome dado, a princípio, aos secretários dos reis
de Judá e a certos intendentes dos exércitos judeus. Mais tarde, foi
aplicado especialmente aos doutores que ensinavam a lei de Moisés e a
interpretavam para o povo. Faziam causa comum com os fariseus, de cujos
princípios partilhavam, bem como da antipatia que aqueles votavam aos
inovadores. Daí o envolvê-los Jesus na reprovação que lançava aos
fariseus.
Essênios ou esseus. - Também seita judia fundada cerca
do ano 150 antes de Jesus-Cristo, ao tempo dos macabeus, e cujos
membros, habitando uma especie de mosteiros, formavam entre si uma como
associação moral e religiosa. Distinguiam-se pelos costumes brandos e
por austeras virtudes, ensinavam o amor a Deus e ao próximo, a
imortalidade da alma e acreditavam na ressurreição. Viviam em celibato,
condenavam a escravidão e a guerra, punham em comunhão os seus bens e se
entregavam à agricultura. Contrários aos saduceus sensuais, que negavam
a imortalidade; aos fariseus de rígidas práticas exteriores e de
virtudes apenas aparentes, nunca os essênios tomaram parte nas querelas
que tornaram antagonistas aquelas duas outras seitas. Pelo gênero de
vida que levavam, assemelhavam-se muito aos primeiros cristãos, e os
princípios da moral que professavam induziram muitas pessoas a supor que
Jesus, antes de dar começo à sua missão pública, lhes pertencera à
comunidade. E certo que ele há de tê-la conhecido, mas nada prova que se
lhe houvesse filiado, sendo, pois, hipotético tudo quanto a esse
respeito se escreveu. (1)
(1) A morte de Jesus, supostamente escrita
por um essênio, é obra inteiramente apócrifa, cujo único fim foi servir
de apoio a uma opinião. Ela traz em si mesma a prova de sua origem
moderna.
Fariseus (do hebreu parush, divisão, separação). - A
tradição constituía parte importante da teologia dos judeus. Consistia
numa compilação das interpretações sucessivamente dadas ao sentido das
Escrituras e tomadas artigos de dogma. Constituía, entre os doutores,
assunto de discussões intermináveis, as mais das vezes sobre simples
questões de palavras ou de formas, no gênero das disputas teológicas e
das sutilezas da escolástica da Idade Média. Daí nasceram diferentes
seitas, cada uma das quais pretendia ter o monopólio da verdade,
detestando-se umas às outras, como sói acontecer.
Entre essas seitas, a mais influente era a dos fariseus, que teve por chefe Hillel (2),
doutor judeu nascido na Babilônia, fundador de uma escola célebre, onde
se ensinava que só se devia depositar fé nas Escrituras. Sua origem
remonta a 180 ou 200 anos antes de Jesus-Cristo. Os fariseus, em
diversas épocas, foram perseguidos, especialmente sob Hircano -soberano
pontífice e rei dos judeus -, Aristóbulo e Alexandre, rei da Síria. Este
último, porém, lhes deferiu honras e restituiu os bens, de sorte que
eles readquiriram o antigo poderio e o conservaram até à ruína de
Jerusalém, no ano 70 da era cristã, época em que se lhes apagou o nome,
em conseqüência da dispersão dos judeus.
(2) Não confundir esse Hillel que fundou a seita
dos fariseus com o seu homônimo que viveu duzentos anos mais tarde e
estabeleceu os princípios religiosos e sociais de um sistema todo de
tolerância e amor, sistema hoje conhecido por Hilelismo. - A Editora da
FEB, 1947.
Tomavam parte ativa nas controvérsias religiosas. Servis cumpridores
das práticas exteriores do culto e das cerimônias; cheios de um zelo
ardente de proselitismo, inimigos dos inovadores, afetavam grande
severidade de princípios; mas, sob as aparências de meticulosa devoção,
ocultavam costumes dissolutos, muito orgulho e, acima de tudo, excessiva
ânsia de dominação. Tinham a religião mais como meio de chegarem a seus
fins, do que como objeto de fé sincera. Da virtude nada possuíam, além
das exterioridade e da ostentação; entretanto, por umas e outras,
exerciam grande influência sobre o povo, a cujos olhos passavam por
santas criaturas. Daí o serem muito poderosos em Jerusalém.
Acreditavam, ou, pelo menos, fingiam acreditar na Providência, na
imortalidade da alma, na eternidade das penas e na ressurreição dos
mortos. (Cap. IV, nº. 4.) Jesus, que prezava, sobretudo, a simplicidade e
as qualidades da alma, que, na lei, preferia o espírito, que vivifica, a' letra, que mata, se
aplicou, durante toda a sua missão, a lhes desmascarar a hipocrisia,
pelo que tinha neles encarniçados inimigos. Essa a razão por que se
ligaram aos príncipes dos sacerdotes para amotinar contra ele o povo e
eliminá-lo.
Nazarenos. - Nome dado, na antiga lei, aos judeus que faziam
voto, ou perpétuo ou temporário, de guardar perfeita pureza. Eles se
comprometiam a observar a castidade, a abster-se de bebidas alcoólicas e
a conservar a cabeleira. Sansão, Samuel e João Batista eram nazarenos.
Mais tarde, os judeus deram esse nome aos primeiros cristãos, por alusão a Jesus de Nazaré.
Também foi essa a denominação de uma seita herética dos primeiros
séculos da era cristã, a qual, do mesmo modo que os ebionitas, de quem
adotava certos princípios, misturava as práticas do moisaísmo com os
dogmas cristãos, seita essa que desapareceu no século quarto.
Portageiros. - Eram os arrecadadores de baixa categoria,
incumbidos principalmente da cobrança dos direitos de entrada nas
cidades. Suas funções correspondiam mais ou menos à dos empregados de
alfândega e recebedores dos direitos de barreira. Compartilhavam da
repulsa que pesava sobre os publicanos em geral. Essa a razão por que,
no Evangelho, se depara freqüentemente com a palavra publicano ao lado da expressão gente de má vida. Tal qualificação não implicava a de debochados ou vagabundos. Era um termo de desprezo, sinônimo de gente de má companhia, gente indigna de conviver com pessoas distintas.
Publicanos - Eram assim chamados, na antiga Roma, os
cavalheiros arrendatários das taxas públicas, incumbidos da cobrança dos
impostos e das rendas de toda espécie, quer em Roma mesma, quer nas
outras partes do Império. Eram como os arrendatários gerais e
arrematadores de taxas do antigo regímen na França e que ainda existem
nalgumas legiões. Os riscos a que estavam sujeitos faziam que os olhos
se fechassem para as riquezas que muitas vezes adquiriam e que, da parte
de alguns, eram frutos de exações e de lucros escandalosos. O nome de
publicano se estendeu mais tarde a todos os que superintendiam os
dinheiros públicos e aos agentes subalternos. Hoje esse termo se emprega
em sentido pejorativo, para designar os financistas e os agentes pouco
escrupulosos de negócios. Diz-se por vezes: "Ávido como um publicano,
rico como um publicano", com referência a riquezas de mau quilate.
De toda a dominação romana, o imposto foi o que os judeus mais
dificilmente aceitaram e o que mais irritação causou entre eles. Dai
nasceram várias revoltas, fazendo-se do caso uma questão religiosa, por
ser considerada contrária à Lei. Constituiu-se, mesmo, um partido
poderoso, a cuja frente se pôs um certo Judá, apelidado o Gaulonita,
tendo por principio o não pagamento do imposto, Os judeus, pois,
abominavam a este e, como consequência, a todos os que eram encarregados
de arrecadá-lo, donde a aversão que votavam aos publicanos de todas as
categorias, entre os quais podiam encontrar-se pessoas muito estimáveis,
mas que, em virtude das suas funções, eram desprezadas, assim como os
que com elas mantinham relações, os quais se viam atingidos pela mesma
reprovação. Os judeus de destaque consideravam um comprometimento ter
com eles intimidade.
Saduceus. - Seita judia, que se formou por volta do ano 248
antes de Jesus-Cristo e cujo nome lhe veio do de Sadoc, seu fundador.
Não criam na imortalidade, nem na ressurreição, nem nos anjos bons e
maus. Entretanto, criam em Deus; nada, porém, esperando após a morte, só
o serviam tendo em vista recompensas temporais, ao que, segundo eles,
se limitava a providência divina. Assim pensando, tinham a satisfação
dos sentidos tísicos por objetivo essencial da vida. Quanto às
Escrituras, atinham-se ao texto da lei antiga. Não admitiam a tradição,
nem interpretações quaisquer. Colocavam as boas obras e a observância
pura e simples da Lei acima das práticas exteriores do culto. Eram, como
se vê, os materialistas, os deístas e os sensualistas da época. Seita
pouco numerosa, mas que contava em seu seio importantes personagens e se
tornou um partido político oposto constantemente aos fariseus.
Samaritanos. - Após o cisma das dez tribos, Samaria se
constituiu a capital do reino dissidente de Israel. Destruída e
reconstruída várias vezes, tomou-se, sob os romanos, a cabeça da
Samaria, uma das quatro divisões da Palestina. Herodes, chamado o
Grande, a embelezou de suntuosos monumentos e, para lisonjear Augusto,
lhe deu o nome de Augusta, em grego Sebaste.
Os samaritanos estiveram quase constantemente em guerra com os reis
de Judá. Aversão profunda, datando da época da separação, perpetuou-se
entre os dois povos, que evitavam todas as relações recíprocas. Aqueles,
para tornarem maior a cisão e não terem de vir a Jerusalém pela
celebração das festas religiosas, construfram para si um templo
particular e adotaram algumas reformas. Somente admitiam o Pentateuco,
que continha a lei de Moisés, e rejeitava todos os outros livros que a
esse foram posteriormente anexados. Seus livros sagrados eram escritos
em caracteres hebraicos da mais alta antigüidade. Para os judeus
ortodoxos, eles eram heréticos e, portanto, desprezados, anatematizados e
perseguidos. Ó antagonismo das duas nações tinha, pois, por fundamento
único a divergência das opiniões religiosas; se bem fosse a mesma a
origem das crenças de uma e outra. Eram os protestantes desse tempo.
Ainda hoje se encontram samaritanos em algumas regiões do Levante,
particularmente em Nablus e em Jafa. Observam a lei de Moisés com mais
rigor que os outros judeus e só entre si contraem alianças.
Sinagoga (do grego synagogê, assembléia, congregação). -
Um único templo havia na Judéia, o de Salomão, em Jerusalém, onde se
celebravam as grandes cerimônias do culto. Os judeus, todos os anos, lá
iam em peregrinação para as festas principais, como as da Páscoa, da
Dedicação e dos Tabernáculos. Por ocasião dessas festas é que Jesus
também costumava ir lá. As outras cidades não possuíam templos, mas,
apenas, sinagogas: edifícios onde os judeus se reuniam aos sábados, para
fazer preces públicas, sob a chefia dos anciães, dos escribas, ou
doutores da Lei. Nelas também se realizavam leituras dos livros
sagrados, seguidas de explicações e comentários, atividades das quais
qualquer pessoa podia participar. Por isso é que Jesus, sem ser
sacerdote, ensinava aos sábados nas sinagogas.
Desde a ruína de Jerusalém e a dispersão dos judeus, as sinagogas,
nas cidades por eles habitadas, servem-lhes de templos para a celebração
do culto.
Terapeutas (do grego therapeutai, formado de therapeuein, servir,
cuidar, isto é: servidores de Deus, ou curadores). - Eram sectários
judeus contemporâneos do Cristo, estabelecidos principalmente em
Alexandria, no Egito. Tinham muita relação com os essênios, cujos
princípios adotavam, aplicando-se, como esses últimos, à prática de
todas as virtudes. Eram de extrema frugalidade na alimentação. Também
celibatários, votados à contemplação e vivendo vida solitária,
constituíam uma verdadeira ordem religiosa. Fílon, filósofo judeu
platônico, de Alexandria, foi o primeiro a falar dos terapeutas,
considerando-os uma seita do judaísmo. Eusébio, S. Jerônimo e outros
Pais da Igreja pensam que eles eram cristãos. Fossem tais, ou fossem
judeus, o que é evidente é que, do mesmo modo que os essênios, eles
representam o traço de união entre o Judaísmo e o Cristianismo.
IV. Sócrates e Platão, precursores da idéia cristã e do Espiritismo
Do fato de haver Jesus conhecido a seita dos essênios, fora errôneo
concluir-se que a sua doutrina hauriu-a ele na dessa seita e que, se
houvera vivido noutro meio, teria professado outros princípios. As
grandes idéias jamais irrompem de súbito. As que assentam sobre a
verdade sempre têm precursores que lhes preparam parcialmente os
caminhos. Depois, em chegando o tempo, envia Deus um homem com a missão
de resumir, coordenar e completar os elementos esparsos, de reuni-los em
corpo de doutrina. Desse modo, não surgindo bruscamente, a idéia, ao
aparecer, encontra espíritos dispostos a aceitá-la. Tal o que se deu com
a idéia cristã, que foi pressentida muitos séculos antes de Jesus e dos
essênios, tendo por principais precursores Sócrates e Platão.
Sócrates, como o Cristo, nada escreveu, ou, pelo menos, nenhum
escrito deixou. Como o Cristo, teve a morte dos criminosos, vítima do
fanatismo, por haver atacado as crenças que encontrara e colocado a
virtude real acima da hipocrisia e do simulacro das formas; por haver,
numa palavra, combatido os preconceitos religiosos. Do mesmo modo que
Jesus, a quem os fariseus acusavam de estar corrompendo o povo com os
ensinamentos que lhe ministrava, também ele foi acusado, pelos fariseus
do seu tempo, visto que sempre os houve em todas as épocas, por
proclamar o dogma da unidade de Deus, da imortalidade da alma e da vida
futura. Assim como a doutrina de Jesus só a conhecemos pelo que
escreveram seus discípulos, da de Sócrates só temos conhecimento pelos
escritos de seu discípulo Platão. Julgamos conveniente resumir aqui os
pontos de maior relevo, para mostrar a concordância deles com os
princípios do Cristianismo.
Aos que considerarem esse paralelo uma profanação e pretendam que não
pode haver paridade entre a doutrina de um pagão e a do Cristo, diremos
que não era pagã a de Sócrates, pois que objetivava combater o
paganismo; que a de Jesus, mais completa e mais depurada do que aquela,
nada tem que perder com a comparação; que a grandeza da missão divina do
Cristo não pode ser diminuída; que, ao demais, trata-se de um fato da
História, que a ninguém será possível apagar. O homem há chegado a um
ponto em que a luz emerge por si mesma de sob o alqueire. Ele se acha
maduro bastante para encará-la de frente; tanto pior para os que não
ousem abrir os olhos. Chegou o tempo de se considerarem as coisas de
modo amplo e elevado, não mais do ponto de vista mesquinho e acanhado
dos interesses de seitas e de castas.
Além disso, estas citações provarão que, se Sócrates e Platão
pressentiram a idéia cristã, em seus escritos também se nos deparam os
princípios fundamentais do Espiritismo.
V. Resumo da doutrina de Sócrates e de Platão
I. O homem é uma alma encarnada. Antes da sua encarnação,
existia unida aos tipos primordiais, às idéias do verdadeiro, do bem e
do belo; separa-se deles, encarnando, e, recordando o seu passado, é mais ou menos atormentada pelo desejo de voltar a ele.
Não se pode enunciar mais claramente a distinção e independência
entre o princípio inteligente e o princípio material. E, além disso, a
doutrina da preexistência da alma; da vaga intuição que ela guarda de um
outro mundo, a que aspira; da sua sobrevivência ao corpo; da sua saída
do mundo espiritual, para encarnar, e da sua volta a esse mesmo mundo,
após a morte. É, finalmente, o gérmen da doutrina dos Anjos decaídos.
1I.A alma se transvia e perturba, quando se serve do corpo para
considerar qualquer objeto; tem vertigem, como se estivesse ébria,
porque se prende a coisas que estão, por sua natureza, sujeitas a
mudanças; ao passo que, quando contempla a sua própria essência,
dirige-se para o que é puro, eterno, imortal, e, sendo ela desta
natureza, permanece aí ligada, por tanto tempo quanto passa. Cessam
então os seus transviamentos, pois que está unida ao que é imutável e a
esse estado da alma é que se chama sabedoria.
Assim, ilude-se a si mesmo o homem que considera as coisas de modo
terra-a-terra, do ponto de vista material. Para as apreciar com justeza,
tem de as ver do alto, isto é, do ponto de vista espiritual. Aquele,
pois, que está de posse da verdadeira sabedoria, tem de isolar do corpo a
alma, para ver com os olhos do Espírito. E o que ensina o Espiritismo.
(Cap. II, nº 5.)
III. Enquanto tivermos o nosso corpo e a alma se achar mergulhado
nessa corrupção, nunca possuiremos o objeto dos nossos desejos: a
verdade. Com efeito, o corpo nos suscita mil obstáculos pela necessidade
em que nas achamos de cuidar dele. Ao demais, ele nos enche de desejos,
de apetites, de temores, de mil quimeras e de mil tolices, de maneira
que, com ele, impossível se nos torna ser ajuizados, sequer por um
instante. Mas, se não nos é possível conhecer puramente coisa alguma,
enquanto a alma nos está ligada ao corpo, de duas uma: ou jamais
conheceremos a verdade, ou só a conheceremos após a morte. Libertos da
loucura do corpo, conversaremos então, lícito é esperá-lo, com homens
igualmente libertos e conheceremos, por nós mesmos, a essência das
coisas. Essa a razão por que os verdadeiros filósofos se exercitam em
morrer e a morte não se lhes afigura, de modo nenhum, temível.
Está ai o princípio das faculdades da alma obscurecidas por motivo
dos órgãos corporais e o da expansão dessas faculdades depois da morte.
Mas trata-se apenas de almas já depuradas; o mesmo não se dá com as
almas impuras. (O Céu e o Inferno, 1ª Parte, cap. II; 2ª Parte, cap. I.)
IV. A alma impura, nesse estado, se encontra oprimida e se vê de
novo arrastado para o mundo visível, pelo horror do que é invisível e
imaterial. Erra, então, diz-se, em torno dos monumentos e dos túmulos,
junto aos quais já se têm visto tenebrosos fantasmas, quais devem ser as
imagens das almas que deixaram o corpo sem estarem ainda inteiramente
puras, que ainda conservam alguma coisa do forma material, o que faz que
a vista humana possa percebê-las. Não são as almas dos bons; silo,
porém, as dos maus, que se vêem forçadas a vagar por esses lugares, onde
arrastam consigo a pena do primeira vida que tiveram e onde continuam a
vagar até que os apetites inerentes à forma material de que se
revestiram as reconduzam a um corpo. Então, sem dúvida, retomam os
mesmos costumes que durante a primeira vida constituíam objeto de suas
predileções.
Não somente o princípio da reencarnação se acha ai claramente
expresso, mas também o estado das almas que se mantêm sob o jugo da
matéria é descrito qual o mostra o Espiritismo nas evocações. Mais
ainda: no tópico acima se diz que a reencarnação num corpo material é
conseqüência da impureza da alma, enquanto as almas purificadas se
encontram isentas de reencarnar. Outra coisa não diz o Espiritismo,
acrescentando apenas que a alma? que boas resoluções tomou na
erraticidade e que possui conhecimentos adquiridos, traz, ao renascer,
menos defeitos, mais virtudes e idéias intuitivas do que tinha na sua
existência precedente. Assim, cada existência lhe marca um progresso
intelectual e moral. (O Céu e o Inferno, 2.ª Parte: Exemplos.)
V. Após a nossa morte, o gênio (daimon, demônio), que nos
fora designado durante a vida, leva-nos a um lugar onde se reúnem todos
os que têm de ser conduzidas ao Hades, para serem julgados. As almas,
depois de haverem estado no Hades o tempo necessário, são reconduzidas a
esta vida em múltiplos e longos períodos.
É a doutrina dos Anjos guardiães, ou Espíritos protetores, e das
reencarnações sucessivas, em seguida a intervalos mais ou menos longos
de erraticidade.
VI. Os demônios ocupam o espaço que separa o céu da Terra;
constituem o laço que une o Grande Todo a si mesmo. Não entrando nunca a
divindade em comunicação direta com o homem, é por intermédio dos
demônios que os deuses entram em comércio e se entretêm com ele, quer
durante a vigília, quer durante o sono.
A palavra daimon, da qual fizeram o termo demônio, não era, na
antigüidade, tomada à má parte, como nos tempos modernos. Não designava
exclusivamente seres malfazejos, mas todos os Espíritos, em geral,
dentre os quais se destacavam os Espíritos superiores, chamados deuses, e
os menos elevados, ou demônios propriamente ditos, que comunicavam
diretamente com os homens. Também o Espiritismo diz que os Espíritos
povoam o espaço; que Deus só se comunica com os homens por intermédio
dos Espíritos puros, que são os incumbidos de lhe transmitir as
vontades; que os Espíritos se comunicam com eles durante a vigília e
durante o sono. Ponde, em lugar da palavra demônio, a palavra Espírito e tereis a doutrina espírita; ponde a palavra anjo e tereis a doutrina cristã.
VII. A preocupação constante do filósofo (tal como o compreendiam Sócrates e Platão)
é, a de tomar o maior cuidado com a alma, menos pelo que respeita a
esta vida, que não dura mais que um instante, do que tendo em vista a
eternidade. Desde que a alma é, imortal, não será prudente viver visando
a eternidade?
O Cristianismo e o Espiritismo ensinam a mesma coisa.
VIII. Se a alma é imaterial, tem de passar, após essa vida, a um
mundo igualmente invisível e imaterial, do mesmo modo que o corpo,
decompondo-se, volta à matéria, Muito importa, no entanto, distinguir
bem a alma pura, verdadeiramente imaterial, que se alimente, como Deus,
de ciência e pensamentos, da alma mais ou menos maculada de impurezas
materiais, que a impedem de elevar-se para o divino e a retêm nos
lugares da sua estada na Terra.
Sócrates e Platão, como se vê, compreendiam perfeitamente os
diferentes graus de desmaterialização da alma. Insistem na diversidade
de situação que resulta para elas da sua maior ou menor pureza. O que eles diziam, por intuição, o Espiritismo o prova com os inúmeros exemplos que nos põe sob as vistas. (O Céu e o Inferno, 2ª Parte.)
IX. Se a morte fosse a dissolução completa do homem, muito
ganhariam com a morte os maus, pois se veriam livres, ao mesmo tempo, do
corpo, da alma e dos vícios. Aquele que guarnecer a alma, não de
ornatos estranhos, mas com os que lhe são próprios, só esse poderá
aguardar tranqüilamente a hora da sua partida para o outro mundo.
Eqüivale isso a dizer que o materialismo, com o proclamar para depois
da morte o nada, anula toda responsabilidade moral ulterior, sendo,
conseguintemente, um incentivo para o mal; que o mau tem tudo a ganhar
do nada. Somente o homem que se despojou dos vícios e se enriqueceu de
virtudes, pode esperar com tranqúilidade o despertar na outra vida. Por
meio de exemplos, que todos os dias nos apresenta, o Espiritismo mostra
quão penoso é, para o mau, o passar desta à outra vida, a entrada na
vida futura. (O Céu e o Inferno, 2ª Parte, cap. 1.)
X. O corpo conserva bem impressos os vestígios dos cuidados de que
foi objeto e dos acidentes que sofreu. Dá-se o mesmo com a alma. Quando
despida do corpo, ela guarda, evidentes, os traços do seu caráter, de
suas afeições e as marcas que lhe deixaram todos os atos de sua visa.
Assim, a maior desgraça que pode acontecer ao homem é ir para o outro
mundo com a alma carregado de crimes. Vês, Cálicles, que nem tu, nem
Pólux, nem Górgias podereis provar que devamos levar outra vida que nos
seja útil quando estejamos do outro lado. De tantas opiniões diversas, a
única que permanece inabalável é a de que mais vale receber do que
cometer uma injustiça e que, acima de tudo, devemos cuidar, não de
parecer, mas de ser homem de bem. (Colóquios de Sócrates com seus discípulos, na prisão.)
Depara-se-nos aqui outro ponto capital, confirmado hoje pela
experiência: o de que a alma não depurada conserva as idéias, as
tendências, o caráter e as paixões que teve na Terra. Não é inteiramente
cristã esta máxima: mais vale receber do que cometer uma injustiça? O
mesmo pensamento exprimiu Jesus, usando desta figura: "Se alguém vos
bater numa face, apresentai-lhe a outra." (Cap. XII, nº 7 e nº 8.)
XI. De duas uma: ou a morte é uma destruição absoluta, ou é
passagem da alma para outro lugar. Se tudo tem de extinguir-se, a morte
será como uma dessas raras noites que passamos sem sonho e sem nenhuma
consciência de nós mesmos. Todavia, se a morte é apenas uma mudança de
morada, a passagem para o lugar onde os mortos se têm de reunir, que
felicidade a de encontrarmos lá aqueles a quem conhecemos! O meu maior
prazer seria examinar de perto os habitantes dessa outra morada e
distinguir lá, como aqui, os que são dignos dos que se julgam tais e não
o são. Mas, é tempo de nos separarmos, eu para morrer, vós para
viverdes. (Sócrates aos seus juizes.)
Segundo Sócrates, os que viveram na Terra se encontram após a morte e
se reconhecem. Mostra o Espiritismo que continuam as relações que entre
eles se estabeleceram, de tal maneira que a morte não é nem uma
interrupção, nem a cessação da vida, mas uma transformação, sem solução
de continuidade.
Houvessem Sócrates e Platão conhecido os ensinos que o Cristo
difundiu quinhentos anos mais tarde e os que agora o Espiritismo
espalha, e não teriam falado de outro modo. Não há nisso, entretanto, o
que surpreenda, se considerarmos que as grandes verdades são eternas e
que os Espíritos adiantados hão de tê-las conhecido antes de virem a
Terra, para onde as trouxeram; que Sócrates, Platão e os grandes
filósofos daqueles tempos bem podem, depois, ter sido dos que secundaram
o Cristo na sua missão divina, escolhidos para esse fim precisamente
por se acharem, mais do que outros, em condições de lhe compreenderem as
sublimes lições; que, finalmente, pode dar-se façam eles agora parte da
plêiade dos Espíritos encarregados de ensinar aos homens as mesmas
verdades.
XII. Nunca se deve retribuir com outra uma injustiça, nem fazer mal a ninguém, seja qual for o dano que nos hajam causado.
Poucos, no entanto, serão os que admitam esse principio, e os que se
desentenderem a tal respeito nada mais farão, sem dúvida. do que se
votarem uns aos outros mútuo desprezo.
Não está aí o princípio de caridade, que prescreve não se retribua o mal com o mal e se perdoe aos inimigos?
XII. É pelos frutos que se conhece a árvore. Toda ação deve ser qualificada pelo que produz: qualificá-la de má, quando dela provenha mal; de boa, quando dê origem ao bem.
Esta máxima: "Pelos frutos é que se conhece a árvore", se encontra muitas vezes repetida textualmente no Evangelho.
XIV. A riqueza é um grande perigo. Todo homem que ama a riqueza
não ama a si mesmo, nem ao que é seu; ama a uma coisa que lhe é ainda
mais estranha do que o que lhe pertence. (Capítulo XVI.)
XV. As mais belas preces e os mais belos sacrifícios prazem menos à
Divindade do que uma alma virtuosa que faz esforços por se lhe
assemelhar. Grave coisa fora que os deuses dispensassem mais atenção às
nossas oferendas, do que a nossa alma; se tal se desse, poderiam os mais
culpados conseguir que eles se lhes tornassem propícios. Mas, não:
verdadeiramente justos e retos só o são os que, por suas palavras e
atos, cumprem seus deveres para com os deuses e para com os homens. (Cap. X, nº 7 e nº e 8.)
XVI. Chamo homem vicioso a esse amante vulgar, que mais ama o
corpo do que a alma. O amor está por toda parte em a Natureza, que nos
convida ao exercício da nossa inteligência; até no movimento dos astros o
encontramos. É o amor que orna a Natureza de seus ricos tapetes; ele se
enfeita e fixa morada onde se lhe deparem flores e perfumes. É ainda o
amor que dá paz aos homens, calma ao mar, silêncio aos ventos e sono a
dor.
O amor, que há de unir os homens por um laço fraternal, é uma
conseqüência dessa teoria de Platão sobre o amor universal, como lei da
Natureza. Tendo dito Sócrates que "o amor não é nem um deus, nem um
mortal, mas um grande demônio", isto é, um grande Espírito que preside
ao amor universal, essa proposição lhe foi imputada como crime.
XVII. A virtude não pode ser ensinada; vem por dom de Deus aos que a possuem.
É quase a doutrina cristã sobre a graça; mas, se a virtude é um dom
de Deus, é um favor e, então, pode perguntar-se por que não é concedida a
todos. Por outro lado, se é um dom, carece de mérito para aquele que a
possui. O Espiritismo é mais explícito, dizendo que aquele que possui a
virtude a adquiriu por seus esforços, em existências sucessivas,
despojando-se pouco a pouco de suas imperfeições. A graça é a força que
Deus faculta ao homem de boa vontade para se expungir do mal e praticar o
bem.
XVIII. É disposição natural em todos nós a de nos apercebermos muito menos dos nossos defeitos, do que dos de outrem.
Diz o Evangelho: "Vedes a palha que está no olho do vosso próximo e
não vedes a trave que está no vosso." (Cap. X, nº 9 e nº 10.)
XIX. Se os médicos são malsucedidos, tratando da maior parte das
moléstias, é que tratam do corpo, sem tratarem da alma. Ora, não se
achando o todo em bom estado, impossível é que uma parte dele passe bem.
O Espiritismo fornece a chave das relações existentes entre a alma e o
corpo e prova que um reage incessantemente sobre o outro. Abre, assim,
nova senda para a Ciência. Com o lhe mostrar a verdadeira causa de
certas afecções, faculta-lhe os meios de as combater. Quando a Ciência
levar em conta a ação do elemento espiritual na economia, menos
freqüentes serão os seus maus êxitos.
XX. Todos os homens, a partir da infância, muito mais fazem de mal, do que de bem.
Essa sentença de Sócrates fere a grave questão da predominância do
mal na Terra, questão insolúvel sem o conhecimento da pluralidade dos
mundos e da destinação do planeta terreno, habitado apenas por uma
fração mínima da Humanidade. Somente o Espiritismo resolve essa questão,
que se encontra explanada aqui adiante, nos capítulos II, III e V.
XXI. Ajuizado serás, não supondo que sabes o que ignoras.
Isso vai com vistas aos que criticam aquilo de que desconhecem até
mesmo os primeiros termos. Platão completa esse pensamento de Sócrates,
dizendo: "Tentemos, primeiro, torná-los, se for possível, mais honestos
nas palavras; se não o forem, não nos preocupemos com eles e não procuremos senão a verdade. Cuidemos de instruir-nos, mas não nos injuriemos." E
assim que devem proceder os espíritas com relação aos seus
contraditores de boa ou má-fé. Revivesse hoje Platão e acharia as coisas
quase como no seu tempo e poderia usar da mesma linguagem. Também
Sócrates toparia criaturas que zombariam da sua crença nos Espíritos e
que o qualificariam de louco, assim como ao seu discípulo Platão.
Foi por haver professado esses princípios que Sócrates se viu
ridiculizado, depois acusado de impiedade e condenado a beber cicuta.
Tão certo é que, levantando contra si os interesses e os preconceitos
que elas ferem, as grandes verdades novas não se podem firmar sem luta e
sem fazer mártires.
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